O Irão acusou hoje o presidente norte-americano de "mudar constantemente de posições" sobre um potencial acordo sobre o programa nuclear de Teerão, afirmando que o comportamento de Donald Trump faz parte de "um jogo psicológico e mediático".
Nas mesmas declarações, o Governo iraniano negou que esteja em cima da mesa a possibilidade de novos contactos bilaterais com os Estados Unidos.
"De manhã ouvimos dizer que vão ser adotadas medidas e à tarde (os Estados Unidos) impõem um novo pacote de sanções. Não se pode confiar nas mudanças de posição e nas flutuações", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Esmaeil Baqaei, referindo-se ao chefe de Estado norte-americano.
O mesmo porta-voz sublinhou que as posições assumidas por Washington geram dúvidas no executivo iraniano, recordando que os dois países estavam a dialogar quando Israel lançou a ofensiva contra o país, a 13 de junho.
"Devem ser consideradas mais no contexto de jogos psicológicos e mediáticos do que como uma declaração séria para o diálogo ou a resolução de conflitos", referiu.
As declarações de Baqaei foram divulgadas poucas horas depois de o chefe de Estado norte-americano ter afirmado que "não vai oferecer nada ao Irão" nas negociações sobre o programa nuclear.
Donald Trump reiterou que os bombardeamentos conduzidos pela força aérea norte-americana contra as instalações iranianas em Fordo, Esfahan e Natanz, a 22 de junho, destruíram o programa nuclear de Teerão.
Trump, que durante o seu primeiro mandato presidencial (2017-2021) retirou unilateralmente Washington de um acordo internacional com Teerão - que impunha restrições e supervisão ao programa nuclear iraniano em troca de uma retirada de sanções - também sublinhou que "nem sequer está a falar" com o Governo iraniano, uma vez que os Estados Unidos "eliminaram totalmente as instalações nucleares".
O Presidente dos Estados Unidos insinuou, há dias, que poderia manter conversações com o Irão esta semana para reativar o processo negocial. Teerão recusou-se a confirmar tais movimentações e questionou as intenções de Washington, depois do apoio norte-americano à ofensiva de Israel, que foi interrompida através de um cessar-fogo a 24 de junho, e dos bombardeamentos que visaram as instalações nucleares iranianas.
O porta-voz iraniano criticou também a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) devido "à posição" do organismo das Nações Unidas sobre a ofensiva militar de Israel e dos Estados Unidos contra o Irão.
Baqaei afirmou que a AIEA deve atuar em conformidade com os deveres técnicos e pediu para não se "deixar influenciar por alguns dos membros" que integram o organismo.
"A agência é uma instituição internacional com deveres claros. Os deveres do diretor-geral da AIEA também são claros", afirmou Baqaei, em consonância com as anteriores críticas de Teerão ao organismo da ONU e ao seu diretor-geral, Rafael Grossi.
Segundo a diplomacia de Teerão, França, Reino Unido e a Alemanha pressionaram o Irão através da AIEA, mencionando a última resolução aprovada pelo organismo, apenas um dia antes de Israel lançar a ofensiva militar.
Hoje, estes três países condenaram as ameaças contra o diretor-geral da AIEA e reiteraram total apoio à agência da ONU e a Rafael Grossi.
"Exortamos o Irão (...) a tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança do pessoal da AIEA", escreveram numa declaração conjunta os chefes da diplomacia francesa, Jean-Noel Barrot, alemã, Johann Wadephul, e britânica, David Lammy.
Os três ministros dos Negócios Estrangeiros apelaram também às autoridades iranianas para que se abstenham "de qualquer medida destinada a pôr termo à cooperação com a AIEA".
O chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, denunciou na sexta-feira "as intenções maliciosas" de Grossi, que considerou necessário visitar as instalações nucleares iranianas bombardeadas pelos Estados Unidos.
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