A condenação francesa do ataque do Exército israelita a civis palestinianos foi divulgada num comunicado do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Segundo a Defesa Civil da Faixa de Gaza, pelo menos 21 pessoas foram mortas e 150 ficaram feridas quando militares israelitas abriram fogo sobre "grupos de cidadãos que aguardavam ajuda" humanitária entre as 02:00 e as 06:00 da manhã (00:00 e 03:00 de Lisboa), perto do cruzamento de Netzarim, no centro da Faixa de Gaza.
O organismo de socorro também relatou que mais 25 civis foram hoje mortos por fogo israelita no sul da Faixa de Gaza, quando "tentavam chegar a um centro humanitário" perto de Rafah.
Questionado pela agência de notícias francesa AFP, um porta-voz do Exército israelita indicou que as informações que referem feridos na sequência de disparos israelitas perto do cruzamento de Netzarim estão "a ser analisadas".
"A ajuda humanitária não deve ser instrumentalizada para fins políticos ou militares. França apela ao Governo israelita para que permita o acesso imediato, maciço e sem entraves da ajuda humanitária a Gaza", acrescentou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros no comunicado.
O texto reafirma também o "total apoio" de França "às agências das Nações Unidas e aos seus parceiros humanitários, que provaram a sua integridade e capacidade de prestar ajuda no pleno respeito dos princípios humanitários".
Na segunda-feira, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Friedrich Merz, insistiram na importância de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, em paralelo com o cessar-fogo anunciado pelos Estados Unidos entre Israel e o Irão.
"Além do que se passa no Irão, reitero aqui a necessidade de alcançar um cessar-fogo em Gaza e de retomar a ajuda humanitária a Gaza", declarou Macron à comunicação social, à margem de uma visita oficial a Oslo.
"Chegou o momento de concluir um cessar-fogo em Gaza", declarou, por sua vez, Merz perante os deputados alemães em Berlim.
O primeiro-ministro do Qatar, país mediador entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, afirmou que Doha está a trabalhar para retomar as negociações com vista a um novo cessar-fogo em Gaza.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra em Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este realizar em território israelita um ataque que fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.
A guerra no território palestiniano fez, até agora pelo menos 56.000 mortos, na maioria civis, e mais de 131.000 feridos, além de mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, segundo números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Depois de Israel bloquear, a partir de 02 de março, e durante quase três meses, a ajuda humanitária a Gaza, alguns mantimentos estão agora a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que já várias vezes abriu fogo sobre civis palestinianos que tentavam obter comida, fazendo centenas de vítimas.
Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
No final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva em Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado em maio um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
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