"Nenhum de nós acredita que o pior pode acontecer-nos. [Pensamos que] a guerra pode acontecer em qualquer lugar do mundo, mas não aqui", defendeu hoje o antigo governante ucraniano, intervindo em Lisboa numa conferência sobre a Europa e as relações transatlânticas, organizada pelo canal Now.
Fazendo uma analogia com o botão 'snooze' (adiar) do despertador, Kubela considera que a Europa tem estado a adiar decisões no que diz respeito à guerra na Ucrânia, causada pela invasão russa em fevereiro de 2022.
"A Ucrânia não teve o luxo de apertar o botão de adiar. Ou morre ou sobrevive", lembrou, deixando um apelo à Europa: "Por favor, não aprenda com os seus próprios erros. Aprenda com os nossos erros".
A Europa "não é fraca, é forte", sublinhou.
"O problema da Europa é que não acredita em si mesma. A Europa tem que começar a acreditar em si mesma, na sua capacidade", defendeu.
Kuleba avisou que "não há ninguém que venha ajudar", antes de acrescentar, em tom de brincadeira: "Exceto, é claro, o exército ucraniano", causando risos entre a plateia, depois de o curador da conferência, o antigo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, ter elogiado a capacidade das forças ucranianas.
Questionado sobre as hipóteses de um acordo para um cessar-fogo com a Rússia, Dmytro Kuleba foi taxativo: "A resposta é zero. Não há nenhuma hipótese de cessar-fogo ou paz na Ucrânia nestas circunstâncias num futuro previsível".
O Presidente russo, Vladimir Putin, "não entende por que deveria fazer uma concessão, ele não sente qualquer pressão sobre ele", mencionou.
Putin, prosseguiu, "tem uma economia real que gera dinheiro suficiente com o comércio de petróleo, e assim, pode produzir mais armas e lançá-las na batalha e, na verdade, expandir para o teatro, ainda não de guerra, mas o teatro da pressão", nomeadamente junto de países vizinhos, como a Finlândia.
Kuleba questionou se "quando as negociações reais começarem, haverá esta abordagem do Presidente [dos Estados Unidos, Donald] Trump e a Ucrânia será pressionada a fazer cada vez mais concessões".
Putin, referiu, "irá sempre elevar o limiar das exigências".
"Essa é a tática tradicional russa e há uma exigência e, no decorrer das negociações, surge uma segunda, terceira exigência e assim por diante", disse.
"Há zero motivação para parar" a guerra, salientou.
O objetivo de Putin é "a subjugação da Ucrânia e provar aos europeus e a todo o mundo que a promessa de realidade plantada pela União Europeia e a NATO é falsa".
Kuleba considerou que as negociações para a paz exigem que algumas questões fiquem numa "zona cinzenta", garantindo que Kyiv nunca aceitará "qualquer cessação legal de território" nem de abdicar da adesão à NATO.
Sobre o que espera do apoio de Trump a Kyiv, Kuleba disse acreditar que os EUA não irão "enviar armas em grandes quantidades".
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