Sánchez desafiou ainda a oposição de direita e extrema-direita a avançar com uma moção de censura ao Governo, face às críticas dos últimos dias por causa das suspeitas de corrupção na cúpula socialista, e voltou a dizer que não vai convocar eleições antecipadas.
"O PSOE é uma organização limpa", disse Sánchez, numa conferência de imprensa em Madrid no final de uma reunião de mais de cinco horas da direção executiva do partido, depois de na quinta-feira a justiça espanhola ter revelado haver "indícios consistentes" de corrupção envolvendo o 'número 3' dos socialistas (santos Cerdán), que se juntam às suspeitas relacionadas com outro dirigente do partido e ex-ministro (José Luis Ábalos).
Sánchez considerou que o relatório policial conhecido na semana passada não aponta para qualquer tipo de financiamento ilegal do PSOE e realçou que o partido se submete a auditorias externas independentes para além das obrigatórias por parte do Tribunal de Contas.
Ainda assim, reiterou que será feita nova auditoria às contas do partido para confirmar que não têm irregularidades e que a eventual corrupção na cúpula do partido, nomeadamente, na Secretaria de Organização, tinha três protagonistas (dois ex-dirigentes e um assessor) e era de âmbito pessoal, não organizacional.
Por outro lado, prometeu colaboração com a justiça e medidas para que este caso, a confirmar-se em sentenças judiciais, "seja o primeiro e o último" caso de corrupção "que afeta" o PSOE sob a sua liderança, depois de reconhecer que "estes estão a ser dias difíceis para a família socialista".
O Comité Federal do PSOE, o máximo órgão do partido entre congressos, vai reunir-se em 05 de julho em Madrid, para aprovar uma nova composição da Secretaria de Organização, e Sánchez apelou hoje à participação de todas as vozes, insistindo em que "a crítica é bem-vinda" e fortalece a organização.
O relatório policial conhecido na quinta-feira, que tem no centro de suspeitas de corrupção dois ex-dirigentes do PSOE muito próximos de Sánchez, considerados dois dos seus maiores homens de confiança no partido, abriu uma crise política em Espanha, com analistas, imprensa, oposição e também dirigentes socialistas a assumirem que é das maiores crises que o primeiro-ministro já viveu e um caso que ameaça a sua sobrevivência política.
Para além da oposição, vozes socialistas defenderam a antecipação das eleições legislativas ou, pelo menos, que Sánchez se submeta a uma moção de confiança no parlamento, coisas que o primeiro-ministro rejeitou hoje.
"O Governo vai continuar com o seu trabalho de avanços sociais", disse Sánchez, que destacou o bom desempenho da economia espanhola ou de outros índices sociais desde que é primeiro-ministro e destacou que a alternativa é uma coligação de direita e extrema-direita, do Partido Popular (PP) e do Vox, com uma "agenda reacionária".
Apesar de descartar a moção de confiança, Sánchez, que foi reeleito como primeiro-ministro em novembro de 2023 por uma geringonça de oito partidos, disse hoje que já pediu ao parlamento para ir ao plenário, o mais depressa possível, prestar esclarecimentos sobre este caso e responder às perguntas dos deputados.
Além disso, revelou que o PSOE vai avançar com uma comissão parlamentar de inquérito "que permita aos membros da câmara conhecer a verdade".
Sánchez disse que vai agora reunir-se com os partidos da geringonça que o reelegeram - que lhe têm pedido mais explicações e medidas "contundentes" para "extirpar" a corrupção, mas não lhe retiraram o apoio e têm dito que não vão contribuir para colocar no poder o PP e o Vox.
Por outro lado, desafiou a direita e a extrema-direita e avançarem com uma moção de censura e dizerem" que modelo de país querem para Espanha a partir da tribuna" do parlamento.
As moções de censura em Espanha, como lembrou hoje o próprio Sánchez, são "construtivas", o que significa que têm de incluir um programa de Governo e um nome para liderar o executivo, que é automaticamente eleito se a moção for bem sucedida, não havendo lugar a eleições.
Depois na quinta-feira ter reconhecido na quinta-feira haver "indícios muito graves" de corrupção envolvendo Cerdán e Ábalos, e de ter pedido "desculpa e perdão" por isso aos espanhóis e aos militantes do PSOE, Sánchez dirigiu-se hoje em concreto às mulheres, por causa do teor de algumas gravações de conversas telefónicas entre os suspeitos apreendidas pela polícia e que os meios de comunicação têm estado a divulgar.
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