Em causa está a corrente que regula o clima europeu, conhecida pela sigla AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation) e que os cientistas dizem estar a abrandar devido ao aquecimento global.
Segundo o estudo, do Real Instituto Meteorológico dos Países Baixos e da Universidade de Utrecht, publicado hoje na revista" Geophysical Research Letters", Bruxelas pode viver 19 dias por ano com temperaturas máximas inferiores a zero.
Cientistas e investigadores têm alertado com insistência que se a AMOC atingir um ponto de rotura poderá levar a uma Europa mais fria, num mundo mais quente.
O estudo quantifica, pela primeira vez, como seriam as temperaturas europeias em diferentes cenários da corrente do Atlântico e das alterações climáticas. Mas no quadro apresentado a capital portuguesa não aparece entre as cidades mais afetadas.
No entanto, segundo René van Westen, autor do estudo, as temperaturas médias no inverno em algumas cidades europeias poderão descer 15ºC e os extremos de frio poderão atingir -34ºC em Copenhaga, -29ºC em Berlim e -18ºC em Paris.
No Reino Unido e na Irlanda, os extremos de frio poderiam atingir -19°C em Londres, quase -30°C em Edimburgo e -22°C em Dublin, com a camada de gelo do Ártico a cobrir partes das Ilhas Britânicas.
Com uma AMOC mais fraca e com um cenário de aumento da temperatura de dois graus acima da época pré-industrial haverá um arrefecimento da Europa porque uma corrente mais fraca leva à expansão do bloco de gelo marinho do Atlântico Norte.
E também se registará um aumento das tempestades de inverno e maiores flutuações diárias da temperatura, explica-se no estudo.
"Cada fração de grau de aquecimento global aproxima-nos do colapso do AMOC. O nosso novo estudo mostra que isso levaria a Europa ao outro extremo - um futuro de frio intenso", diz René van Westen citado no documento.
E acrescenta: "O nosso estudo é mais um forte aviso aos decisores políticos da UE de que, para evitar uma catástrofe climática, devem seguir o conselho dos cientistas do Conselho Consultivo Científico Europeu para as Alterações Climáticas e reduzir as emissões em 90-95% até 2040. Temos de reduzir urgentemente as emissões de gases com efeito de estufa".
A AMOC leva as águas quentes para o norte ao longo da superfície do Atlântico e transporta para sul as águas frias e profundas, fornecendo calor e nutrientes às regiões mais frias e transferindo carbono para o fundo do mar.
Isto ajuda a regular as temperaturas europeias e as temperaturas amenas devem-se em parte a essa corrente.
O abrandamento perturbaria o transporte do calor para norte, levando ao arrefecimento da Europa.
O estudo foi divulgado numa altura em que decorre em Nice, França, a terceira conferência mundial dos oceanos, que junta decisores políticos de todo o mundo e pretende mobilizar para a importância dos oceanos e para a degradação a que estão sujeitos.
Leia Também: Glaciares levarão séculos a recuperar mesmo que aquecimento seja travado