Teerão defendeu que a informação recolhida através desses documentos "demonstra o papel que os Estados Unidos e certos países europeus desempenharam" no apoio aos programas nucleares e de armas de Israel, enquanto "acusam hipocritamente" o Irão de "levar a cabo atividades não pacíficas".
O Ministério informou ainda que "uma parte importante dos documentos será utilizada" pelas Forças Armadas, enquanto o resto será "trocado com as nações aliadas e facultado a organizações e grupos anti-sionistas".
Os documentos foram obtidos através de um "operação de inteligência sem precedentes" que conseguiu "infligir um duro golpe" a Israel, segundo Teerão.
"Foi levada a cabo com êxito num ambiente operacional dinâmico e debaixo das mais estritas medidas de segurança", assegurou.
No sábado, a televisão estatal do Governo do Teerão anunciou que o Irão obteve vários documentos "sensíveis" sobre Israel, em particular sobre as suas instalações nucleares.
"Os serviços secretos iranianos obtiveram uma grande quantidade de informações estratégicas e sensíveis e de documentos pertencentes ao regime sionista, incluindo milhares de documentos relativos aos projetos e instalações nucleares do regime", informou a televisão estatal, que citou "fontes bem informadas".
As autoridades israelitas anunciaram em maio a detenção de duas pessoas identificadas como Roy Mizrahi e Almog Atias, ambos de 24 anos, por alegada espionagem a favor da República Islâmica do Irão. Os dois arguidos tinham sido detidos em abril.
A agência noticiosa Tasnim, muito próxima da liderança iraniana, qualificou a operação como "um dos maiores golpes dos serviços secretos do Irão na história" contra Israel.
Sobre os documentos obtidos, o Ministério disse hoje que contêm informações relacionadas com os programas militares e de mísseis de Israel, assim como registos de projetos científicos e técnicos de dupla utilização, além de nomes, perfis, imagens e moradas de autoridades envolvidas.
"Uma das descobertas chave é que, além de empregar os seus próprios cidadãos, também contratou investigadores de outras nacionalidades", precisou o Ministério, segundo informações da agência de notícias IRNA.
O comandante da Guarda Revolucionária do Irão, Hosein Salami, afirmou que a informação "tornará mais preciso o impacto de mísseis iranianos. Serão mais eficazes os esforços para fortalecer o processo de destruição do regime de ocupação sionista", assegurou.
Estas declarações aconteceram um dia depois do diretor geral do Organismo Internacional para a Energia Atómica (OIEA), Rafael Grossi, afirmar que a obtenção destes documentos confidenciais é um mau passo que não vai ao encontro do espírito de cooperação.
Nos últimos meses, as autoridades israelitas têm registado um número crescente de atividades de espionagem em nome do Irão e detiveram várias pessoas sob esta acusação.
O Irão, por sua vez, executou no final de maio um homem identificado como Pedram Madani, condenado por alegada espionagem para os serviços secretos israelitas, a Mossad.
A sua execução foi a segunda em 2025, no Irão, relacionada com acusações de espionagem a favor de Israel.
O Irão fez do apoio à causa palestiniana um pilar da sua política externa desde a Revolução Islâmica de 1979 e não reconhece o Estado de Israel.
O programa nuclear iraniano é visto como uma ameaça existencial pelos dirigentes israelitas.
Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, e Israel, considerado pelos especialistas como a única potência nuclear do Médio Oriente, suspeitam que o Irão pretende adquirir armas nucleares.
O Irão nega que tenha tais ambições militares, mas insiste que tem direito à energia nuclear civil ao abrigo do Tratado de Não Proliferação (TNP) de que é signatário.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manifestou repetidamente o seu apoio a uma ação militar contra as instalações nucleares do Irão.
s governos israelitas assumiram uma política de ambiguidade sobre o programa nuclear, nunca admitindo publicamente a posse de ogivas.
Especialistas estimam numa centena o número de ogivas nucleares na posse de Israel, que se tem recusado a assinar o TNP, mas tem atacado reatores de energia nuclear na Síria, no Iraque e no Irão.
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