Estes tiroteios diários têm ocorrido depois de uma fundação apeada por Israel e EUA ter criado pontos de distribuição de ajuda dentro de zonas militares israelitas, um sistema que asseguraram ter sido concebido para evitar o Hamas.
A Organização das Nações Unidas rejeitou o novo sistema, dizendo que não responde à crescente crise de fome e permite a Israel usar a ajuda como arma.
Os militares israelitas disseram que "tinham disparado para afastar suspeitos". Em comunicado, o porta-voz militar, Effie Defrin, disse que "os números de baixas divulgados pelo Hamas são exagerados", mas que o incidente estava a ser investigado.
Acrescentou que o exército não está a impedir as pessoas de acederem à ajuda, mas pelo contrário está a permitir que lhe tenham acesso a ela.
A Fundação Humanitária de Gaza (FHG), que opera os locais, confirmou que tem havido violência dentro ou à volta dos mesmos.
Os cerca de dois milhões de palestinianos da Faixa de Gaza estão totalmente dependentes da ajuda internacional porque os militares israelitas destruíram praticamente todas as capacidades de produção alimentar do enclave palestiniano.
Várias testemunhas avançaram que os tiroteios ocorreram todos no local designado Flag Roundabout, situado a cerca de um quilómetro de um dos dois centros da FHG na quase desabitada cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Toda a área é zona militar israelita, onde os jornalistas não têm acesso, a não ser que sejam enquadrados por militares.
Uma pessoa deslocada de Rafah, Yasser Abu Lubda, de 50 anos, especificou que o tiroteio começou cerca das quatro da manhã e que viu várias pessoas mortas e feridas.
Outra testemunha, Rasha al-Nahal, acentuou que "havia tiros de todos os lados" e disse que contou mais de uma dúzia de mortos e vários feridos ao longo da estrada.
Os 27 mortos durante a madrugada foram também afirmados pelo Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.
Hisham Mhanna, porta-voz da Cruz Vermelha, confirmou também este número, acrescentando que o seu hospital de campanha em Rafah recebeu também 184 feridos, 19 dos quais foram declarados mortos à chegada, com outros oito a falecer depois por causa das feridas.
Os mortos foram transferidos para o Hospital Nasser, na cidade de Khan Younis. Entre os homens estão três crianças e duas mulheres, segundo Mohammed Saqr, chefe da enfermagem do hospital.
O diretor do hospital, Atef al-Hout, disse que a maior parte dos feridos tinha sido atingidos por balas.
Jeremy Laurence, porta-voz do gabinete da ONU para os direitos humanos, disse aos jornalistas que também tinha informação da existência de 27 mortos.
"Os palestinianos têm sido confrontados com a pior das escolhas: morrer de fome ou arriscar a ser morto enquanto procura alcançar a escassa comida que está a ser disponibilizada pelo mecanismo de assistência israelita", disse o comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, em comunicado.
A FHG adiantou que distribuiu comida de 21 camiões no seu sítio na terça-feira, enquanto os outros dois locais estavam fechados.
Durante um período de cessar-fogo este ano entravam na Faixa de Gaza diariamente 600 camiões com ajuda.
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