"Recusamo-nos a ser um público de espectadores-aprovadores ['bystander-approvers', no original]. Isto não é apenas sobre a nossa humanidade comum e sobre todos os direitos humanos; isto é acerca da nossa aptidão moral enquanto escritores do nosso tempo, que diminui a cada dia que passa em que nos recusamos a falar e denunciar este crime", pode ler-se no texto, partilhado na plataforma Medium, contando com a britânica Jeanette Winterson como primeira assinante.
Na carta, os escritores elencam três exigências, a começar pela "distribuição de comida e de ajuda médica sem restrições por toda a Faixa de Gaza pelas Nações Unidas".
"Exigimos que sanções sejam impostas sobre o Estado de Israel, se o governo israelita não ouvir este apelo, que é também o apelo do mundo, para um cessar-fogo imediato", referem os signatários.
Esse cessar-fogo deve "garantir segurança e justiça para todos os palestinianos, a libertação dos reféns israelitas e a libertação dos milhares de presos palestinianos detidos de forma arbitrária nas prisões israelitas".
O documento é assinado pelos centros PEN do País de Gales e da Escócia, assim como por centenas de escritores em nome próprio que vão do irlandês Kevin Barry à britânica Sarah Hall, passando pelo músico Brian Eno, entre tantos outros criadores como Zadie Smith, Ian McEwan, William Dalrymple, Hanif Kureshi ou Elif Shafak.
No texto, os autores alegam que "o termo 'genocídio' não é um slogan", e que acarreta "responsabilidades legais, políticas e morais".
"Da mesma maneira que é verdade chamar as atrocidades cometidas pelo Hamas contra civis inocentes em 07 de outubro de 2023 de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, é hoje também verdade chamar o ataque sobre a população de Gaza uma atrocidade de genocídio, com crimes de guerra e crimes contra a humanidade, cometidos diariamente pelas Forças de Defesa de Israel, sob comando do governo do Estado de Israel".
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para erradicar o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território fez até agora quase 54.000 mortos, na maioria civis, e mais de 120.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante mais de dois meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível, que estão a entrar agora a conta-gotas.
Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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