"Pretendemos que o partido paralise as atividades porque, a caminharmos assim, vamos ao abismo. Com a liderança do presidente Ossufo Momade nós não chegaremos a lado algum. E esta é a razão pela qual nós, os ex-guerreiros da Renamo, queremos que ele se demita", afirmou à Lusa o porta-voz deste grupo, Edgar Silva, pouco depois de tomarem o edifício que alberga aquele gabinete de trabalho, no centro da capital.
No local é visível um reforço policial, mas sem movimentações durante a manhã, perante a chegada de mais antigos guerrilheiros da Renamo, que já tinham ocupado este mês a sede nacional, a poucas dezenas de metros, onde permanecem desde então, espalhando fotografias e cartazes do histórico líder fundador Afonso Dhlakama (1953-2018) no exterior, com a mesma reivindicação.
"Simplesmente achamos que o presidente é incapaz de dirigir os destinos deste partido. Sendo incapaz, ele que ceda, abra-se para os outros quadros poderem tomar o leme deste partido. Porque assim não vamos chegar a bom porto", insistiu Edgar Silva, antigo guerrilheiro da Renamo na província de Nampula, norte do país.
A ação de hoje, que se segue à tomada de sedes do partido por antigos guerrilheiros um pouco por todo o país nas últimas semanas, acontece poucas horas depois de o parlamento ter aprovado, na terça-feira, as sete personalidades que vão integrar -- por indicação da Assembleia da República - o Conselho de Estado para a atual legislatura, de 2025 -- 2029, incluindo Ossufo Momade.
"Esse é um órgão irrelevante. O Conselho de Estado não diz nada. Não aconselha em nada o chefe de Estado. Nós já temos experiências do passado, até que o presidente Dhlakama nunca tomou lugar nesse tal Conselho de Estado. É irrelevante para nós. Para a vida do povo é irrelevante aquele órgão", acrescentou o porta-voz deste grupo, que ameaça agora ocupar também a casa do presidente do partido.
Edgar Silva garante que a contestação é generalizada nas estruturas do partido e que só pontualmente algumas resistem: "Uma e outra resistem porque há esquadrões de morte e os militares têm medo de enfrentá-los. Este partido tem esquadrões de morte".
"O que se segue é para onde ele for trabalhar, nós iremos. Para onde ele for trabalhar, nós iremos. Se for necessário, vamos até a casa dele. Como forma de pressioná-lo. Tem que desistir", concluiu.
A direção da Renamo pediu em 23 de maio que os seus guerrilheiros desmobilizados convoquem, "com caráter de urgência", uma conferência nacional de antigos combatentes, quando parte desses membros exigem a saída do líder do partido, que há vários meses não participa em atos públicos no país.
Ossufo Momade foi também candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro, ficando em terceiro lugar entre quatro candidatos. Nessa mesma votação, a Renamo ainda perdeu o histórico título de maior partido da oposição para o Podemos, passando de 60 para 28 assentos no parlamento.
A direção da Renamo tem apelado ao respeito pelos órgãos do partido, pedindo que as divergências, que estão a levar antigos guerrilheiros a tomar instalações em todo país, sejam resolvidas internamente.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada anteriormente, assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
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