Segundo o prior adjunto da Ordem de Santo Agostinho, Luís Marin, o novo Papa, membro da mesma ordem, é "uma pessoa simples e discreta", que adora desporto, seja ver futebol ou praticar ténis.
"Sempre que podia escapar-se das obrigações, vinha aqui praticar ténis. Aliás praticou ténis no domingo antes do Conclave", disse, apontando para o court de ténis na sede da Ordem, de onde se vê a cúpula da Basílica de São Pedro.
A sede da ordem era um local que frequentava diariamente, mesmo depois de eleito Prefeito do Dicastério dos Bispos, cargo que ocupava.
"Come o que há, não diz que não a nada e é uma pessoa simples", disse o religioso, recordando que Prevost era visita regular, fosse para a missa das manhãs, para os almoços na cantina ou para ver jogos de futebol.
Os "romanos vão ter um Papa aficionado do Roma", reconheceu, sorrindo Luís Marín, salientando que o então frade Prevost era alvo de chacota pela escolha de um clube que não tem muitas vitórias.
"Nós brincávamos com ele e dizíamos-lhe que gostava de ser um sofredor", afirmou.
O papa foi prior geral da Ordem de Santo Agostinho durante 12 anos, de 2001 a 2013, e "foi sempre um homem muito comunitário", era "um líder muito próximo das pessoas, com uma profunda espiritualidade e muita preparação", que "partilhava as coisas do dia-a-dia".
Noutro campo, Luís Marin salienta a clareza de pensamento de Prevost e, por isso, a sua escolha para ser Leão XIV não foi inocente, porque o último Leão (XIII) "era um Papa que soube os sinais dos tempos numa época muito difícil e que soube ver o que necessitava o mundo e para onde deveria ir a Igreja".
Leão XIII foi também "o Papa da doutrina social" da Igreja, algo que Prevost quer renovar, perante a revolução digital atual.
"É um mundo novo que está a surgir" e a "Igreja não pode estar longe, tem de dar uma resposta e tem que saber ler os sinais deste tempo". Caso contrário, "como poderá levar o Evangelho ao mundo de hoje?", questionou.
O discurso dito da varanda de São Pedro, no dia da eleição, é uma "síntese" do que será o Pontificado de Leão XIV e de como será o seu estilo.
"Viram que o levava escrito? Este não é um Papa que improvise, cada um tem o seu estilo e não podemos ir buscar uma fotocópia do Papa Francisco, que é muito mais espontâneo", explicou.
O discurso estava escrito porque "o preparou, porque ele quer dizer o que quer dizer e como quer dizer" e "já o levava muito pensado", explicou Luís Marin.
Sobre o caminho do pontificado, Leão XIV vai colocar "Cristo como centro para todos os cristão", ao mesmo tempo que "luta pela paz", termo que repetiu muitas vezes, "neste mundo tão convulso", considerou Luís Marin.
Depois, no discurso, seguiram-se outros conceitos teológicos, como a "justiça, a comunhão, a inclusão ou a evangelização", um termo que "caracteriza o percurso de Robert Prevost" e a sua marca agostiniana.
Leão XIV é "um homem de integração, não um homem das trincheiras contra o outro" e é "um homem de diálogo", porque para "dialogar é preciso escutar".
Sem dúvida alguma ele falará com todos, com todos aqueles que queiram falar" e "no concerto do mundo vai ser um ponto de referência", mas sem ceder ao legado do Papa Francisco.
Será "uma continuidade na descontinuidade" em relação a Francisco, Papa que o fez cardeal, que o trouxe do Peru para Roma e com quem falava todos os sábados de manhã.
"Há uma sintonia de fundo" para uma "Igreja inclusiva" entre os dois, porque "são filhos do [Concílio] Vaticano II, daquilo que é a eclesiologia da Vaticano II", numa referência ao encontro magno dos católicos nos anos 1960 que promoveu a abertura da instituição ao mundo contemporâneo.
Agora, "ninguém é uma cópia de outra pessoa" e Leão XIV terá um "estilo totalmente diferente", avisou Luís Marin, salientando que Prevost "não é um homem de confrontação", e tem um registo "mais suave, menos espontâneo e possivelmente mais reflexivo".
Contudo, isso não significa que se "contente com meias tintas" ou compromissos que não satisfaçam os seus objetivos últimos como líder da Igreja.
"O Papa Leão é um homem muito claro, tem ideias muito claras e é muito concreto", disse salientando que o trabalho de reforma da Igreja, que constitui o Processo Sinodal, irá continuar.
"Ele é agostiniano e nós os Agostinhos somos muito sinodais", aceitando os contributos de todas as partes e sem uma hierarquia rígida.
A "nossa espiritualidade é muito sinodal, de comunhão, de participação de todos, de escuta e de evangelização".
Além disso, o também subsecretário geral do Sínodo recorda que o "cardeal Prevost participou do Sínodo dos Bispos e tinha intervenções muito bonitas, ponderadas e sempre na linha sinodal da Igreja".
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