Quanto, pelas 21 horas locais (20h00 em Lisboa), saiu o fumo negro da Capela Sistina, os ecrãs que transmitiam para a Praça de São Pedro falharam e ouviu-se um padre filipino a gritar: "foram os russos que bloquearam o sinal".
Mas quase ninguém se riu porque já era visível o cansaço de muitos, à espera há várias horas do resultado da primeira votação do Colégio Cardinalício para escolher o sucessor de Francisco.
Ali ao lado, perto da estátua dos imigrantes, estava Tomásio e Rosália, dois jovens de 24 anos que, apesar de não acreditarem, insistiram em cumprir a tradição de vir "ver o fumo à Praça".
"Os meus pais estão também ali mais perto do altar, mas eles rezam. Eu não", afirmou Rosália, que promete vir todos os dias à Praça ver o resultado das votações.
E porquê, se não é católica? "Por curiosidade", responde por três vezes, sem conseguir justificar mais.
"Não sei porquê, mas interessa-me saber quem será o novo Papa", porque "o antigo [Francisco] era um homem do povo e isso é importante", explicou.
Ao seu lado, Tomásio era também a face do cansaço, pelas duas horas de espera. "Eu queria ir embora, mas ela é que insistiu. Ela e eles", disse, apontando para o grupo de raparigas e rapazes romanos que se juntaram para ver a votação.
A poucos metros, Sérgio Diniz é imigrante brasileiro e quis vir hoje ver o resultado. "Sempre que puder vir, venho. Vivo perto e é importante saber quem manda aqui", disse, apontando para a Basílica de São Pedro.
Evangélico "pouco praticante", Sérgio Diniz olha para o catolicismo com simpatia. "A Igreja é importante, porque ela foi nossa mãe, mas depois nós seguimos o nosso caminho. Somos todos cristãos", explicou.
A espera de duas horas permitiu muitas conversas entre os peregrinos. Maria e a companheira são italianas e vieram assistir ao fumo da chaminé da Capela Sistina.
"Deveria sair de várias cores", disse, numa alusão ao movimento LGBT.
Ao lado, uma freira italiana comentava que já tinha rezado um rosário de três terços e que tinha de recomeçar porque o fumo demorava muito.
Pelo meio, Tomasio insistia em deixar a Praça, mas Rosália queria ficar, fosse por curiosidade, fosse por se sentir mais próxima de Roma.
"Depois vamos a Trastevere [uma tradicional zona de vida noturna de Roma], mas agora ficamos aqui", disse.
Antes do resultado final, muitos aplaudiam como que quisessem acelerar a divulgação da decisão.
"É um empurrão", explicou um padre norte-americano que estava num grupo de seminaristas alemães.
No final, apesar da tensão dos ecrãs desligados, o fumo negro acabou por nem desiludir muito, até porque muitos, como Tomásio, só queriam que a espera acabasse.
"'OK, è nero, andiamo. Torneremo domani'" [Pronto, é negro, vamo-nos. Voltamos amanhã], respondeu Rosália aos amigos.
Com o fecho das portas, 'extra omnes', teve início o Conclave, que junta 133 eleitores de 70 países e, para conseguir uma vitória, o nome escolhido terá de obter 89 votos do colégio eleitoral.
Serão feitas, a partir de quinta-feira, quatro votações diárias, duas de manhã e duas de tarde. Ao final de cada conjunto de votações, os boletins serão queimados e serão adicionados químicos para garantir que o fumo seja negro, no caso de uma votação não conclusiva, ou branco, no caso de uma votação que eleja o 267.º líder da Igreja Católica.
Ao fim de três dias de votação sem uma maioria de dois terços, os cardeais suspendem a votação durante um dia.
Depois da eleição e do fumo branco, o novo Papa irá escolher o seu nome e será apresentado aos fiéis presentes na Praça de São Pedro.
Nessa ocasião, o Conclave terminará e os cardeais deixarão a Casa de Santa Marta. Só dias depois, como é tradição na Igreja Católica, é que o novo Papa irá presidir à sua missa de início de Pontificado.
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