Em causa está um roteiro da UE para eliminar gradualmente as importações de energia russas, hoje divulgado pelo executivo comunitário, no qual a instituição propõe "a cessação de todas as restantes importações de gás russo até ao final de 2027".
A Comissão Europeia também destaca que "um aspeto crucial é o facto de se impedir a celebração de novos contratos com fornecedores de gás russo - gasodutos e GNL [gás natural liquefeito] - e de se pôr termo aos contratos 'spot' [de entrega imediata] existentes até ao final de 2025".
"Esta medida garantirá que, já no final deste ano, a UE terá reduzido em um terço os restantes fornecimentos de gás russo", sublinha o executivo comunitário em informação à imprensa em Bruxelas, vincando que o objetivo de tais propostas é "melhorar a transparência, o controlo e a rastreabilidade do gás russo nos mercados da UE".
Esta é uma das vertentes deste roteiro, com a qual a UE quer "acabar com a sua dependência da energia russa, pondo termo à importação de gás e petróleo russos e abandonando progressivamente a energia nuclear russa, assegurando simultaneamente a estabilidade do aprovisionamento e dos preços da energia em toda a União", explica a instituição em comunicado.
No seguimento da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, e da crise energética ocorrida logo de seguida, a UE adotou o pacote energético REPowerEU para reduzir o fornecimento energético russo e avançou também com sanções, mas no ano passado a UE assistiu a uma retoma das importações de gás russo.
Dados da instituição dão conta de que as importações de gás (tanto GNL como gasoduto) da Rússia para a UE diminuíram de 45% em 2021 para 19% em 2024, com as projeções a apontarem para uma nova descida para 13% em 2025 devido ao fim do trânsito através da Ucrânia.
Devido à guerra da Ucrânia, a UE avançou com sanções como a proibição das importações de carvão russo para a UE e do recarregamento de cargas em portos da UE que transportem GNL da Rússia.
Isso levou a que as importações de petróleo da Rússia também tenham baixado, de 27% no início de 2022 para 3% atualmente.
No que diz respeito ao setor nuclear, as empresas que ainda usam reatores russos têm optado por fornecedores alternativos.
Porém, "apesar dos progressos significativos [...], os fornecimentos russos de gás, petróleo e energia nuclear continuam a fazer parte do cabaz energético da UE", admite a Comissão Europeia, defendendo "ações mais coordenadas" para combater esta "ameaça à segurança".
Em 2024, a UE importou 52 mil milhões de metros cúbicos de gás russo (32 mil milhões de metros cúbicos através de gasodutos e 20 mil milhões de metros cúbicos através de GNL), bem como 13 milhões de toneladas de petróleo bruto e mais de 2.800 toneladas de urânio equivalente enriquecido ou sob a forma de combustível.
Em conferência de imprensa à margem da sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, o comissário europeu da Energia, o dinamarquês Dan Jørgensen, admitiu a "situação inaceitável" a que a UE chegou.
"Hoje, a União Europeia envia uma mensagem muito clara à Rússia: nunca mais vamos permitir que a Rússia use a energia como arma contra nós", adiantou Dan Jørgensen.
O roteiro prevê ainda uma retirada gradual do petróleo e da energia nuclear russos dos mercados da UE, bem como a aposta no GNL, quando atualmente a Noruega e os Estados Unidos são os principais fornecedores ao espaço comunitário.
Em 2024, a UE importou mais de 100 mil milhões de metros cúbicos de GNL e, a partir deste ano, prevê-se que a oferta mundial aumente rapidamente, enquanto a procura de gás deve diminuir.
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