A polícia de Hong Kong deteve o pai da ativista radicada nos Estados Unidos Anna Kwok "e acusou-o de um crime de segurança nacional", começou por escrever num comunicado a Human Rights Watch (HRW), que exige a libertação de Kwok Yin-sang e que sejam "retiradas imediatamente todas as acusações".
"As autoridades de Hong Kong intensificaram recentemente a perseguição às famílias de 19 ativistas de Hong Kong procurados que vivem no exílio. As punições e o assédio contra indivíduos pelas alegadas ações de outra pessoa constituem uma forma de punição coletiva, proibida pelo direito internacional em matéria de direitos humanos", refere-se na nota.
A polícia de segurança nacional de Hong Kong anunciou na sexta-feira a detenção do pai e do irmão de Kwok, acusados de tentar administrar os recursos financeiros da ativista.
De acordo com fontes policiais, trata-se da primeira vez que é aplicada a disposição da controversa lei de segurança nacional que criminaliza a assistência a "fugitivos designados" na gestão dos bens que detêm.
Segundo escreveu a agência Efe na sexta-feira, as autoridades de Hong Kong detiveram o irmão e o pai de Anna Kwok, de 35 e 68 anos, respetivamente, no distrito de Tseung Kwan O, em 30 de abril, e acusaram o último de tentar levantar fundos de uma apólice de seguro em nome da filha, apresentando documentos com assinaturas alegadamente falsas.
Anna Kwok, de 28 anos, vive nos Estados Unidos e é diretora executiva do Hong Kong Democracy Council, organização sem fins lucrativos sediada nos EUA e criada para promover o exercício das liberdades na China.
Apesar de o pai continuar detido, o irmão, funcionário da companhia de seguros que gere as apólices de Kwok, foi libertado sob fiança e está a ser investigado por possível abuso do cargo para facilitar a operação.
"O Governo chinês aumentou o terrível uso de punição coletiva contra membros da família de ativistas pacíficos de Hong Kong", reagiu Yalkun Uluyol, investigador da HRW na China, de acordo com o comunicado.
"As autoridades de Hong Kong devem libertar imediata e incondicionalmente o pai de Anna Kwok e deixar de assediar as famílias dos ativistas de Hong Kong", continuou.
Ainda de acordo com a Efe, as autoridades reiteraram a advertência de que qualquer pessoa que colabore com "fugitivos designados" incorre em penas pesadas que podem ir até sete anos de prisão.
A polícia afirmou que a ativista assistiu, entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022, a reuniões, participou em campanhas no estrangeiro e reuniu-se com políticos e funcionários estrangeiros para pressionar a favor de sanções contra a China continental e Hong Kong.
O nome de Kwok faz parte de uma lista de antigos advogados e ativistas procurados pelas autoridades da antiga colónia britânica e que residem noutros países.
As autoridades estão a oferecer um milhão de dólares de Hong Kong (cerca de 113 mil euros) por informações que levem à detenção dos suspeitos de violarem a lei de segurança nacional, que Pequim impôs em Hong Kong em 2020.
A lei criminaliza praticamente todas as formas de dissidência e utiliza definições amplas para crimes como terrorismo, subversão, secessão e conluio com potências estrangeiras.
Desde a entrada em vigor, tem sido fortemente criticada por governos e organizações ocidentais que preveem o início de uma "nova era de autoritarismo", que pode pôr em causa o princípio de "um país, dois sistemas", fundamental para a autonomia e o estatuto especial de Hong Kong e também da região vizinha Macau.
"É pouco provável que Pequim ponha termo aos abusos contra as famílias dos ativistas exilados, a menos que os governos afetados enviem uma mensagem forte de que essa repressão tem um custo", afirmou ainda Uluyol.
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