Numa decisão inédita neste país da União Europeia e da NATO, quando faltavam apenas dois dias para a realização da segunda volta das presidenciais, em dezembro de 2024, a justiça romena anulou a primeira volta, alegando interferência de uma "potência estrangeira", depois identificada como a Rússia.
Milhares de mensagens e perfis, principalmente na plataforma TikTok, catapultaram o candidato populista Calin Georgescu, até então relativamente desconhecido, para a vitória.
A anulação foi recebida com críticas generalizadas no país, com comentadores e políticos da oposição a considerarem que a decisão do tribunal teve motivações políticas e a "maioria dos eleitores a sentirem-se confusos e descontentes", segundo o analista Camil Calus, do Centro para Estudos Orientais.
No final de dezembro de 2024, uma sondagem mostrava que quase dois terços (62%) dos romenos consideravam que a decisão do Tribunal Constitucional foi errada.
Cristina, uma administrativa de 32 anos, confessou à Lusa em Bucareste que, "durante muitos dias", teve "sentimentos contraditórios".
"Por um lado, não achei que fosse democrático, mas também senti alívio, porque eu não queria aqueles candidatos [Calin Georgescu e a liberal pró-europeia Elena Lasconi, que passaram à segunda volta]", comentou.
Cristina afirmou que "todos os romenos sabem que os políticos são corruptos e estão habituados a isso, mas este caso criou um novo problema".
"Poderia ter funcionado como uma chamada de atenção para os políticos, para que percebam que não vão ficar no poder para sempre e finalmente façam alguma coisa pelo país, mas isso não aconteceu", lamentou.
As pessoas, acrescentou, "estão fartas do regime" e, por isso, Cristina acredita que, no domingo, muitos romenos vão mostrar o seu protesto, com votos nulos. "Mas espero que, na segunda volta [prevista para 18 de maio], as pessoas votem".
Na capital romena, quase não se percebe que faltam poucos dias para as eleições, a que concorrem 11 candidatos -- Calin Georgescu, que era o favorito à repetição das eleições, foi impedido de concorrer.
Nas ruas de Bucareste, não há propaganda dos candidatos, à exceção de uns escassos cartazes, nem iniciativas de campanha.
Os romenos aproveitavam hoje o bom tempo, no feriado, para almoçar nas esplanadas ou para passear nos parques, em família, enquanto alguns turistas visitavam o centro histórico.
A responsável de compras Mihaela Tumaru, 33 anos, acredita que a anulação das eleições "não afetou a democracia" e foi "uma oportunidade para que todos se acalmassem".
"Agora estamos mais seguros em relação às próximas eleições", assegurou, afirmando-se esperançosa de que o país caminhe para melhorias. "Ninguém gosta de instabilidade política", referiu.
Já o gestor Mititina Olimpiu, 34 anos, viu a anulação como "uma loucura, imprópria de uma democracia", e uma decisão com motivações políticas.
O empresário reconhece ter "um mau pressentimento" quanto às eleições de domingo, afirmando não gostar de nenhum dos candidatos: "Todos têm um mau passado".
"Os candidatos deviam dizer o que querem fazer pelo país, que precisa de escolas e hospitais novos e estradas melhores, mas, em vez disso, passam o tempo a criticar-se mutuamente. Um verdadeiro líder deve escutar o povo", defendeu.
O eletricista Corneanu Liviu, 58 anos, concorda com a decisão judicial: "Foi a correta, havia demasiados 'bots' [perfis falsos nas redes sociais]", comentou.
O romeno considera que, desde dezembro de 2024, as autoridades eleitorais passaram a estar mais atentas à propaganda nas redes sociais e mostra-se confiante de que as eleições decorram sem problemas.
Sobre as suas expectativas, respondeu: "É importante não voltar para trás e avançar em direção ao futuro".
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