Flores, bairro de Buenos Aires que viu Francisco nascer, chora a partida

O bairro de Flores, em Buenos Aires, onde o Papa Francisco nasceu, cresceu e descobriu a vocação religiosa, exibe a dor pela partida do filho mais ilustre, aquele que sempre quis voltar, mas não pôde.

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Lusa
21/04/2025 20:52 ‧ há 2 semanas por Lusa

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Papa Francisco

"O vínculo do Papa com este bairro e desta gente com ele é muito forte. Nasceu aqui, cresceu aqui e aqui descobriu a vocação. Eu o recordo sempre a falar de Flores, sobretudo desta basílica porque era devoto de São José", descreveu à Lusa o padre José Luis Carbajal, responsável pela Basílica por onde Mário Jorge Bergoglio passava antes de tornar-se líder da Igreja Católica.

 

Exatamente aqui, pela porta desta Basílica de São José de Flores, Jorge Bergoglio passou aos 17 anos. O jovem ia ao encontro de amigos naquela primavera quando viu luz acesa no confessionário e uma vontade irresistível de entrar. Aquela confissão teria um impacto irreversível na vida do adolescente e, décadas depois, no mundo.

"Deixem as portas das igrejas abertas. Assim, as pessoas entram. Deixem as luzes do confessionário acesas. Verão que se formará uma fila", ensinava o próprio Bergoglio a partir de 1998, quando se tornou arcebispo de Buenos Aires, cargo que desempenhou antes de ser papa.

"O meu sentimento é de emoção, de tristeza e de agradecimento. Tristeza porque partiu um grande Papa, de ideias muito abertas, que deixou em todos nós e na própria Igreja uma marca, aproximando o catolicismo da realidade social. Venho também agradecer pelas mudanças que ele fez", disse à Lusa Carla Vitale, de 45 anos, ao sair de uma das quatro missas dedicadas ao Papa nesta Basílica.

A estudante Joaquina Laigle, de 13 anos, saiu da escola Fernando Fader, a dois quarteirões da Basílica, para ver as expressões de carinho dos fiéis, lamentando que o Papa tenha partido justamente quando parecia estar em recuperação.

"Sinto a tristeza de termos perdido uma pessoa muito generosa, muito bondosa, sempre com empatia pelo próximo. Não pensei que pudesse acontecer isso tão rápido, logo depois da missa de Páscoa. Sinto também muita pena por ele não ter voltado à Argentina, não ter voltado para o bairro de Flores. Parecia que ele ia aguentar mais um pouquinho", lamentou Joaquina.

O reformado Luis Eugénio Casco vem à Basílica todas as semanas. Lembra-se bem de quando Bergoglio se despediu dos sacerdotes, dizendo que ia a Roma, mas que ia voltar porque não seria escolhido Papa.

"Ele dizia: 'fiquem tranquilos que eu voltarei', mas não voltou mais. Ficou muito doente, coitado. O que recebemos dele foi esse exemplo de tratar bem os humildes, de uma Igreja para os pobres", lembrou Luis Eugénio.

"Fazia-nos sentir importantes, valiosos, queridos, amados. Sempre sublinhava o detalhe de cada um, sempre uma palavra de alento, sempre prestava atenção em cada detalhe do que as pessoas contavam. Foi escolhido num dia 13 de março, mas escolheu assumir num dia 19, dia de São José", referiu o padre Carbajal.

O padre confessou ter sabido da notícia da morte quando "rezava antes de amanhecer", costume que disse ter aprendido com o papa.

"Fiz agora a mesma coisa que fiz há 12 anos, quando ele foi eleito Papa: ao saber da notícia, ajoelhei-me e chorei", disse, num sentimento comum entre todos os fiéis que saem da missa com olhos chorosos.

Aqui, em Flores, na pequena praça Hermínia Brumana, uma placa recorda aquele passado em que o pequeno Jorge, de apenas 09 anos, jogava futebol com os amigos depois da escola: "Por aqui corria Jorge atrás de uma bola". A meio quarteirão da praça, na rua Membrillar 531, fica a casa onde Jorge vivia.

Em 1997, quiseram enviá-lo para uma paróquia distante, Bergoglio pediu para ficar.

"Não quero sair de Buenos Aires. Sou portenho [gentílico de Buenos Aires]. Fora de Buenos Aires, não sirvo para nada", disse o amante do bairro de Flores.

Acabou nomeado coadjutor do então arcebispo de Buenos Aires Antonio Quarracino. No ano seguinte, com a morte do superior, Bergoglio tornou-se arcebispo e, aos 75 anos, quando já tinha a carta de renúncia pronta, viajou para Roma e voltou a Buenos Aires, de onde não queria sair.

Leia Também: AO MINUTO: "Carinho que devotou a Portugal"; Francisco morreu após AVC

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