A criação do Monumento Nacional do Internato Federal Indígena de Carlisle - anunciada durante uma cimeira de líderes tribais na Casa Branca - destina-se a fazer face ao que Biden referiu como um "capítulo negro" na história da nação quando centenas de instituições deste cariz existiam.
"Não se trata de apagar a história. Trata-se de reconhecer a história - o bom, o mau e o feio", disse Biden. "Não quero que as pessoas se esqueçam daqui a 10, 20, 30, 50 anos e finjam que não aconteceu."
Milhares de crianças nativas passaram pela notória Carlisle Indian Industrial School entre 1879 e 1918, incluindo o atleta olímpico Jim Thorpe.
Estas crianças provinham de dezenas de tribos, sob políticas de assimilação forçada que tinham por objetivo apagar as tradições dos nativos americanos e "civilizar" as crianças para que se integrassem melhor na sociedade branca.
Foi a primeira escola deste género e tornou-se um modelo para uma rede de internatos de nativos americanos apoiados pelo governo que acabou por se expandir para pelo menos 37 estados e territórios.
"Cerca de 7.800 crianças de mais de 140 tribos foram enviadas para Carlisle - roubadas às suas famílias, às suas tribos e às suas terras de origem. Foi errado fazer da escola indígena de Carlisle um modelo nacional", disse Biden na cimeira da Casa Branca.
O bisneto de Thorpe, James Thorpe Kossakowski, considerou a designação de Biden um passo importante e "histórico" para alargar a compreensão dos americanos sobre a política de assimilação forçada do governo federal.
"É muito emocionante para mim andar, olhar para a área onde o meu bisavô estudou, onde conheceu a minha bisavó, onde se casaram, onde ele ficou no seu dormitório, onde fez exercício e treinou", disse Kossakowski, 54 anos, numa entrevista à Associated Press.
As crianças eram muitas vezes levadas contra a vontade dos pais e estima-se que 187 crianças nativas americanas e do Alasca tenham morrido na instituição em Carlisle, incluindo de tuberculose e outras doenças.
Estão a ser envidados esforços para devolver os restos mortais das crianças, que foram enterradas nos terrenos da escola, às suas terras de origem.
"Representam 50 nações tribais do Alasca ao Novo México e a Nova Iorque e penso que isso simboliza o horror que foi Carlisle", disse Beth Margaret Wright, advogada do Fundo para os Direitos dos Nativos Americanos. Ela representou tribos que tentam fazer com que o Exército devolva os restos mortais dos seus filhos e é membro do Pueblo de Laguna, que tem filhos ainda enterrados lá.
Em setembro, os restos mortais de três crianças que morreram em Carlisle foram desenterrados e devolvidos à Reserva Indígena de Fort Belknap, em Montana.
Pelo menos 973 crianças indígenas americanas morreram em internatos financiados pelo governo que funcionaram durante mais de 150 anos, de acordo com uma investigação do Departamento do Interior.
Durante uma dúzia de sessões públicas de auscultação nos últimos anos, organizadas pelo Departamento do Interior, os sobreviventes das escolas recordaram terem sido espancados, obrigados a cortar o cabelo e castigados por usarem as suas línguas nativas.
A política de assimilação forçada terminou oficialmente com a promulgação da Lei do Bem-Estar da Criança Indígena em 1978. Mas o governo nunca investigou completamente o sistema de internatos até a administração Biden.
A Secretária do Interior, Deb Haaland, cujos avós foram levados para internatos contra a vontade das suas famílias, disse que nenhuma ação isolada resolveria adequadamente os danos causados pelas escolas. Contudo, acredita que os esforços da administração fizeram a diferença e que o novo monumento permitirá ao povo americano saber mais sobre as políticas prejudiciais do governo.
"Esse trauma não é novo para os povos indígenas, mas é novo para muitas pessoas do nosso país", disse Haaland num comunicado.
As escolas, instituições semelhantes e programas de assimilação relacionados foram financiados por um total de 23,3 mil milhões de dólares em despesas federais ajustadas à inflação, segundo as autoridades.
O anúncio faz com que este seja o sétimo monumento nacional criado por Biden, que também alterou ou ampliou vários outros. Em 2021, Biden restaurou os limites de dois monumentos, Bears Ears e Grand Staircase-Escalante, em terras no sul de Utah que são sagradas para as tribos depois de os monumentos terem sido reduzidos pelo ex-presidente Donald Trump.
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