Rei avisa que Jordânia não será "pátria alternativa" para palestinianos

O Rei Abdullah II da Jordânia afastou hoje categoricamente qualquer possibilidade de o seu país servir de "pátria alternativa" para os palestinianos, alertando para a deslocação forçada de populações por Israel, o que constituiria um "crime de guerra".

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© TIMOTHY A. CLARY/AFP via Getty Images

Lusa
24/09/2024 18:11 ‧ 24/09/2024 por Lusa

Mundo

Tensão no Médio Oriente

"Deixem-me ser muito, muito claro: isto nunca acontecerá. Nós jamais aceitaremos a deslocação forçada dos palestinianos, que é um crime de guerra", declarou, na tribuna da 79.ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

 

O monarca dedicou o seu discurso à guerra em Gaza e teceu duras críticas a Israel, país com o qual a Jordânia assinou um acordo de paz e reconhecimento mútuo em 1994 e que sobreviveu a todas as guerras e tensões regionais. Na Jordânia, metade da população é de origem palestiniana.

"Há extremistas que estão a arrastar a nossa região para a beira de uma guerra total, e isto inclui aqueles que continuam a propagar a ideia da Jordânia como uma pátria alternativa", criticou.

Os israelitas, que nunca aceitaram explicitamente a ideia de um Estado palestiniano, dizem frequentemente que os palestinianos têm numerosos Estados árabes que podem servir como a sua pátria, sem necessitarem de um Estado próprio.

Abdullah II continuou a criticar o Estado judaico, dizendo que durante os 57 anos de ocupação dos territórios palestinianos, "foi-lhe permitido atravessar uma linha vermelha após outra, mas agora a longa impunidade de Israel está a tornar-se o seu pior inimigo".

"Vemos as consequências em todo o lado", disse, citando as acusações de genocídio levantadas contra o Estado judaico no Tribunal Internacional de Justiça.

O monarca jordano lembrou que as manifestações em massa contra Israel e os apelos a sanções internacionais se repetem por todo o lado e que a "frustração internacional" não para de crescer, concluindo: Israel "nunca esteve tão exposto".

Se o Estado judaico sempre se vangloriou de ser uma democracia ao estilo ocidental, a única no Médio Oriente, a "brutalidade" da guerra em Gaza fez com que o mundo olhasse para aquele país, frisou Abdullah II, "com os olhos das vítimas, e o paradoxo é estridente".

Abudallah II lançou um alerta aos líderes de Israel, que terão de escolher entre "viver de acordo com os valores democráticos e com justiça e igualdade para todos, ou arriscar-se a um maior isolamento e rejeição".

Apelou ainda à comunidade internacional para que se junte a "uma operação de ajuda maciça destinada a fornecer alimentos, água potável, medicamentos e outros mantimentos vitais" à sitiada Faixa de Gaza, onde quase um ano de guerra causou "sofrimento sem precedentes".

"Exorto todas as nações com consciência a unirem-se à Jordânia nas próximas semanas cruciais para levar a cabo esta missão", disse.

"O nosso mundo falhou politicamente, mas a nossa humanidade não deve falhar mais perante o povo de Gaza", acrescentou.

O monarca afirmou ainda "que nenhum país pode beneficiar da atual escalada" no Médio Oriente.

A guerra em curso em Gaza foi desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas em Israel que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Após o ataque do Hamas, Israel desencadeou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 41 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.

Leia Também: Fecho da Al-Jazeera na Cisjordânia "ataca o direito à informação"

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