Meteorologia

  • 05 MAIO 2024
Tempo
20º
MIN 15º MÁX 20º

Presidente egípcio inicia terceiro mandato perante crise económica

O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, toma posse terça-feira para o terceiro mandato consecutivo, num contexto de grave crise económica e de uma situação "catastrófica" de direitos humanos, segundo analistas.

Presidente egípcio inicia terceiro mandato perante crise económica
Notícias ao Minuto

18:46 - 01/04/24 por Lusa

Mundo Egito

No poder há uma década, al-Sisi, 69 anos, iniciará oficialmente o seu novo mandato na quarta-feira, mais de três meses após a sua reeleição sem surpresas, com 89,6% dos votos, perante três candidatos pouco conhecidos do grande público. Segundo a Constituição egípcia, o novo mandato de seis anos deverá ser o último.

Al-Sisi tomará posse na manhã de terça-feira perante o Parlamento, na nova capital administrativa, ainda sem nome, que está a ser construída a cerca de 50 quilómetros a leste do Cairo, segundo o diário estatal al-Ahram.

De acordo com as autoridades egípcias, al-Sisi prestará juramento no novo Parlamento, um edifício de 110 mil metros quadrados que substituirá a centenário sede legislativa no centro do Cairo, inaugurando também o novo escritório presidencial.

Segundo o deputado Moustafa Bakri, considerado próximo do Governo, este deverá apresentar a sua demissão após a tomada de posse de al-Sisi, apesar de "a Constituição não o obrigar a isso".

Al-Sisi inicia o novo mandato numa altura em que dois terços dos 106 milhões de habitantes do país vivem abaixo ou um pouco acima do limiar da pobreza.

O Egito viu o valor da sua moeda ser dividido por três e a sua dívida multiplicada por igual número.

E com uma grave escassez de divisas a paralisar o comércio, o custo de vida nesta economia dependente das importações não para de aumentar, com uma inflação que atinge os 35%.

"Não encontrei um país, encontrei qualquer coisa, e disseram-me 'toma, leva isto'", disse al-Sisi aos egípcios num discurso em março.

No primeiro trimestre de 2024, o Cairo beneficiou de um afluxo de várias dezenas de milhares de milhões de dólares, incluindo 35.000 milhões de dólares (32.600 milhões de euros) dos Emirados Árabes Unidos e uma extensão de 5.000 milhões de dólares (4.660 milhões de euros) a um empréstimo inicial de 3.000 milhões de dólares (2.800 milhões de euros) do Fundo Monetário Internacional (FMI).

No entanto, estes fundos são acompanhados de condições cada vez mais drásticas impostas pelos doadores.

"O Estado egípcio e o exército têm de se desligar da economia", disse Kristalina Georgieva, chefe do FMI. "O Estado quer intervir mais, não quer retirar-se", afirmou, por outro lado, o economista Mohammed Fouad.

Para os apoiantes do Presidente, este afluxo de divisas deverá permitir que a economia recupere.

Este plano salvou certamente o Egito "de cair no abismo", segundo o antigo ministro e chefe da Autoridade Geral para o Investimento, Ziad Bahaa-Eldin.

Porém, advertiu o mesmo responsável nas páginas do diário independente al-Masry al-Youm, "não se deve acreditar que a crise acabou ou que os problemas foram resolvidos".

Esta análise é partilhada por Fouad, que considera que a crise poderá continuar se não forem tomadas medidas estruturais "para reduzir a despesa pública, retirar o Estado da economia e visar a inflação e não a taxa de câmbio".

Para Bahaa-Eldin, o que os observadores internacionais e locais estão à espera "é de uma transição para programas capazes de estimular a economia real", para "não repetir os mesmos erros".

Ao mesmo tempo, o Egito está preso entre duas guerras: no vizinho Sudão, quase um ano de guerra entre dois generais rivais obrigou mais de 500.000 sudaneses a fugir para território egípcio.

Na Faixa de Gaza, as ameaças israelitas de invadir a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, onde mais de um milhão e meio de pessoas estão amontoadas, levaram o Cairo a recear um êxodo em massa de palestinianos para o Sinai.

No interior do país, a frustração é crescente, mas a oposição está tão amordaçada que tem dificuldade em exprimir-se na praça pública, tal como definiram vários analistas à agência noticiosa France-Presse (AFP).

Em termos de direitos humanos, a situação "continua catastrófica", disse à AFP Mohamed Lotfy, diretor da Comissão Egípcia para os Direitos e a Liberdade, uma organização não-governamental com sede no Cairo.

O Egito, classificado em 136.º lugar entre 142 países no Índice Global do Estado de Direito, do Projeto Justiça Mundial, é um dos países com maior utilização da pena de morte.

De acordo com Washington, o Cairo viola os direitos humanos em todos os domínios, desde as prisões à liberdade de expressão e aos direitos LGBT+.

Lotfy admite que o Egito registou "um avanço nos direitos humanos" em 2022, com o "diálogo nacional" e a libertação de centenas de presos políticos, mas insiste que "toda a esperança desapareceu" e que a única coisa que resta aos egípcios é o "desespero".

Leia Também: Presidente do Egito vai inaugurar a primeira fase da nova capital do país

Recomendados para si

;
Campo obrigatório