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Guerra em Gaza reacende acusações de "dualidade de critérios" na ONU

A guerra em Gaza, iniciada há cinco meses, reacendeu o debate sobre "dualidade de critérios" na ONU, com os Estados Unidos acusados de menosprezarem o sofrimento dos palestinianos relativamente ao dos ucranianos, afirma o International Crisis Group (ICG).

Guerra em Gaza reacende acusações de "dualidade de critérios" na ONU
Notícias ao Minuto

09:03 - 09/03/24 por Lusa

Mundo ONU

Dado que os Estados Unidos vetaram três resoluções do Conselho de Segurança que apelavam a um cessar-fogo imediato no enclave, "os seus críticos afirmaram que Washington e muitos dos seus aliados europeus se preocupam menos com o sofrimento dos palestinianos em Gaza do que com o sofrimento dos civis ucranianos" face à invasão pela Rússia, constata num novo artigo Richard Gowan, do ICG, organização independente voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais.

Em relação à agressão de Moscovo contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022, diplomatas norte-americanos em Nova Iorque enquadraram a Rússia como uma potência "imperial" ao mesmo tempo que reuniam níveis impressionantes de apoio a Kiev na Assembleia Geral. 

Contudo, a comunidade internacional - e muitos dos países que se aliaram à Ucrânia e aos EUA há dois anos - observam agora que os Estados Unidos não estão a responder da mesma forma em relação a Gaza e acusam Washington de cumplicidade do que consideram ser a violência colonialista israelita, ao mesmo tempo que ignoram os apelos da Assembleia Geral para um cessar-fogo.

Um dos países que mais tem acusado Washington de "dualidade de critérios" é, sem surpresas, a Rússia, que tem feito uso desse argumento praticamente em todas as sessões sobre a guerra em Gaza.

Por outro lado, os Estados Unidos lembram frequentemente "que a Federação Russa é um país que não contribui para a resolução de crises humanitárias", numa troca de palavras e acusações que tem levado à erosão da diplomacia na ONU em temas ligados à Ucrânia e a Gaza.

Porém, parece cada vez mais unânime a opinião de que, com a sua posição sobre Gaza, Washington prejudicou a sua própria diplomacia.

"Embora as invocações da Rússia sobre a dualidade de critérios por parte dos EUA possam ser cínicas -- alguns diplomatas árabes sentem que Moscovo está a explorar a causa palestiniana para os seus próprios fins -- muitos observadores ocidentais concordam que Washington causou automutilação diplomática em relação a Gaza", advogou Gowan. 

De facto, os Estados Unidos vêm sofrendo pressão interna e externa em relação ao forte apoio a Israel, uma situação que ameaça ter especial impacto no Governo de Joe Biden em ano eleitoral, com vários protestos pró-Palestina a exigir uma mudança imediata de postura.

Enquanto não houver um fim decisivo para as hostilidades -- ou um horizonte político para um Estado palestiniano -- o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU continuarão a discutir sobre o conflito israelo-palestiniano, acredita o especialista.

"A administração de Biden também terá dificuldade em ganhar força se se apresentar como um líder moral nas crises fora de Gaza", defendeu ainda Gowan, salientando que "muitos diplomatas em Nova Iorque" ponderam já as perspetivas de uma segunda Presidência de Donald Trump, o candidato presidencial favorito dos republicanos. 

"É verdade que os EUA forneceram a Israel um escudo diplomático na ONU durante crises passadas, absorveram os danos à reputação e seguiram em frente. Mas, embora diplomatas e observadores inveterados da ONU possam tratar a duplicidade de critérios como um risco profissional, a forma como os EUA lidaram com esta guerra pode ter efeitos mais duradouros na opinião pública global em relação à administração Biden", apontou. 

Além dos danos à reputação norte-americana, Richard Gowan considerou que também a reputação da ONU foi prejudicada com este conflito, uma vez que o fracasso do Conselho de Segurança em contornar os três vetos dos EUA enfatizou as limitações da Organização. 

Leia Também: Israel? A bola está "no campo" do Hamas para um cessar-fogo em Gaza

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