"As informações recebidas pelo Serviço Geral de Inteligência e pela inteligência militar e diplomática estrangeira mostram que os Emirados Árabes Unidos transportaram apoio militar" para as RSF, declarou Yasser al-Atta num discurso na base de Wadi Sidna, na cidade de Um Durman, no norte do país.
O país árabe forneceu o material "através de aviões [a partir] do aeroporto de Entebbe, no Uganda, e da República Centro-Africana", para além do aeroporto de Amdjarass, no Chade, acusou.
Estas operações foram efetuadas "antes do início do desmantelamento do grupo (mercenário) russo Wagner", que o exército também acusou de fornecer armas aos paramilitares, segundo al-Atta.
Estas são as primeiras declarações de um alto comandante das forças armadas sudanesas sobre o alegado envolvimento dos Emirados na guerra no Sudão, que organizações de defesa dos direitos humanos e investigações têm vindo a denunciar desde o início da guerra, a 15 de abril.
Segundo estes relatos, o Governo dos Emirados transportou grandes quantidades de armas para as RSF através do aeroporto de Amdjarass com o conhecimento das autoridades chadianas, que al-Atta acusou de terem "alguns agentes mercenários e traidores dos povos africanos".
De acordo com o militar, o último carregamento de material dos Emirados para as RSF foi feito na semana passada, através do aeroporto de N'Djamena, a capital Chade, sem fornecer mais pormenores.
"Os Emirados são um país que ama a ruína e segue os passos do mal, apesar de o seu povo ser irmão", disse al-Atta, que na segunda-feira deixou a principal base do exército em Um Durman pela primeira vez desde o início da guerra.
As RSF tomaram vários locais estratégicos na área metropolitana de Cartum, o principal domínio do exército regular, controlando também a maior parte da conturbada região sudanesa de Darfur, no oeste do país.
A guerra, que resultou de divergências profundas entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) no dossier relativo à integração do grupo paramilitar nas forças armadas, fez descarrilar o processo de transição que se arrasta desde o derrube de Omar Al Bashir, em abril de 2019, após 30 anos no poder.
Este confronto já causou milhares de mortos e mais de 7,1 milhões de deslocados internos no Sudão, tornando-o o país com o maior número de deslocados internos do mundo, segundo as Nações Unidas.
As partes mantiveram recentemente conversações na Arábia Saudita, mas não chegaram a acordo sobre um cessar-fogo.
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