Desde a semana passada que Musheir El-Farra não consegue tirar os gritos que ouviu num bombardeamento israelita contra um bloco de apartamentos em Khan Yunis, na Faixa de Gaza. Neste ataque, o engenheiro civil britânico de 62 anos terá perdido 16 familiares.
“Sempre que vou dormir consigo vê-los e pergunto a mim mesmo: ‘Vai haver mais?’ Todas as noites. Todas as noites ouço aqueles gritos, aquelas súplicas”, contou, em declarações ao The Guardian.
Segundo o homem, que disse conhecer mais de 100 pessoas mortas às mãos de Israel, o ataque ocorreu a 10 metros do abrigo em que se encontrava.
“Vi o corpo do meu querido primo, que amei desde criança, chamado Hatim, à minha frente, deitado de costas, com o traseiro exposto, e coloquei um cobertor sobre nele. Vi o corpo do filho dele, que foi atirado do terceiro andar para o quintal em frente à nossa casa. Vi o corpo de dois dos bebés que foram mortos naquele massacre. Vi uma senhora idosa gravemente ferida a ser carregada pelos nossos parentes. Vi todos a ser levados para ambulâncias e vi corpos mutilados. Vi tudo isso a um metro de distância”, disse.
O homem, que nasceu em Gaza mas reside, atualmente, em Sheffield, no Reino Unido, confessou temer vir a sofrer de stress pós-traumático, caso consiga regressar à Grã-Bretanha. El-Farra e o sobrinho Mohammed Ghalayini, um funcionário público de Manchester que também está preso em Khan Younis, conseguiram tranquilizar os seus entes queridos quanto à sua segurança, após o levantamento de um bloqueio quase total de comunicações imposto por Israel. Ainda assim, os sinais de destruição “veem-se em todo o lado”, de acordo com Ghalayini, de 44 anos.
El-Farra, presidente da Campanha de Solidariedade à Palestina em Sheffield, e o filho Qasem, de 21 anos, estão abrigados com quatro outras famílias num prédio de três andares. Para o homem, tem sido chocante ver retirados do norte de Gaza a dormir em caixas de cartão nas calçadas do centro de Khan Yunis. Mas, apesar da destruição, há vestígios de esperança.
“É inacreditável. Somos bombardeados numa noite e no dia seguinte o mercado, a rua principal e as pessoas estão a tentar voltar à vida normal. Tenho visto pessoas a entrar em lojas de comida para pássaros e comprar alimentos para os seus pássaros. […] Numa área que foi bombardeada, as pessoas pensam nos seus pássaros e as lojas abrem”, disse.
E continuou: “Estou triste por não sentirem tanta dor por estarem habituados, embora este seja o ataque mais cruel de acordo com toda a gente. Mas também estou orgulhoso, porque é um sinal de força – embora não devesse ser. As pessoas estão assustadas, aterrorizadas – mas há uma sensação de união e força, e isso é fantástico.”
Depois do ataque surpresa do Hamas contra o território israelita, sob o nome 'Tempestade al-Aqsa', Israel bombardeou a partir do ar várias instalações daquele grupo armado na Faixa de Gaza, numa operação que denominou 'Espadas de Ferro'.
O primeiro-ministro israelita declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE).
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