"Domingo, 17 de setembro, não será uma Pontida como as outras", anunciou Salvini, referindo-se ao município da província de Bérgamo, na Lombardia (norte), onde a Liga assinala anualmente a 'rentrée' política, mas este ano com o estatuto de força governamental, dado o partido integrar a coligação de direita e extrema-direita liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni (Irmãos de Itália), e da qual faz ainda parte a Força Itália (fundado pelo falecido Silvio Berlusconi).
"Juntamente connosco, teremos também uma grande amiga e aliada histórica da Liga, Marine Le Pen, que chegará diretamente de Paris de avião para fazer deste dia de festa um momento de unidade entre os povos por uma Europa finalmente livre", escreveu nas redes sociais Matteo Salvini, que é vice-primeiro-ministro do Governo de Meloni.
O comício da Pontida será dedicado este ano a um balanço do primeiro ano de mandato do atual Governo de que a Liga faz parte, mas servirá também para traçar o rumo para as próximas eleições europeias, agendadas para junho de 2024.
O convite dirigido por Salvini a Le Pen evidencia, no entanto, as diferenças no seio da coligação governamental italiana, face às posições radicais e anti-europeístas da líder da União Nacional (RN, na sigla em francês).
Enquanto a primeira-ministra Giorgia Meloni evita uma aproximação a Le Pen, o atual líder do outro partido da coligação e também vice-primeiro-ministro, Antonio Tajani, que sucedeu -- para já, provisoriamente - a Berlusconi na liderança do Força Itália (direita), já criticou publicamente a 'colagem' da Liga à União Nacional, reiterando que o seu partido rege-se por "outros valores".
"Salvini é livre de convidar quem quiser. Ele faz parte de uma família política na qual existe Le Pen, por isso é livre de a convidar. No entanto, Le Pen nunca poderá ser nossa aliada", declarou Tajani, que é também o chefe da diplomacia italiana, e que já por diversas vezes recusou qualquer aliança com Le Pen ou os alemães do Alternativa para a Alemanha (AfD), também de extrema-direita, e que, tal como a Liga, pertencem ao grupo Identidade e Democracia (I&D), no Parlamento Europeu.
"Nunca ninguém fará um acordo de governo com Le Pen e o Afd. Não o podemos fazer porque os nossos valores são alternativos", acrescentou Tajani, para quem a Liga de Salvini, "um aliado", também tem valores diferentes daqueles dois partidos com os quais está a associar-se.
Em declarações ao 'site' Euractiv, o eurodeputado Marco Campomenosi, líder da Liga no Parlamento Europeu, considerou no entanto que Salvini "teve uma ótima ideia" ao convidar Marine Le Pen, pois, argumentou, "hoje em dia, as relações com os aliados a nível internacional são cada vez mais importantes também para a política interna".
"Na minha opinião, é necessário perguntar a Marine qual é o futuro do RN relativamente às grandes questões europeias, porque pode ser que o seu partido esteja a fazer uma evolução, tal como a Liga e outros movimentos fizeram", acrescentou, lamentando que o Partido Popular Europeu (PPE), ao qual a Força Itália pertence, prefira aparentemente "dialogar com os socialistas do que com os partidos de direita".
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