A diplomacia francesa "reafirma" ainda a esperança de que o resultado das eleições "possa ser respeitado", acrescentou Véran na conferência de imprensa que se seguiu à reunião semanal do Conselho de Ministros francês.
Um grupo de militares gaboneses anunciou hoje na televisão pública do país o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram no sábado Ali Bongo Ondimba, e a dissolução de todas as instituições democráticas.
Horas antes, a meio da noite, às 03:30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral anunciou que o Presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, que obteve 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.
Ali Bongo foi eleito pela primeira vez em 2009, após a morte do seu pai, Omar Bongo Ondimba, que governou o Gabão durante mais de 41 anos.
Omar Bongo foi um dos aliados mais próximos da França na era pós-colonial e Ali é um frequentador assíduo de Paris, onde a sua família possui uma vasta carteira de propriedades, que está a ser objeto de uma investigação por parte de magistrados anticorrupção.
Emmanuel Macron visitou em março passado o Gabão, onde participou na Cimeira da Floresta, uma visita que foi vista por algumas figuras da oposição como uma demonstração de apoio a Bongo antes das eleições presidenciais.
Numa aparente resposta, num discurso em Libreville, o Presidente francês negou na altura qualquer ambição de intervir em África, afirmando que a era da interferência "acabou".
Na sequência do golpe de Estado no Níger, no passado dia 26 de julho, a França recusou reconhecer o regime militar e prometeu apoiar os países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), alguns dos quais apoiam a ação militar contra os golpistas e na passada segunda-feira Emmanuel Macron referiu-se a uma "epidemia" de golpes de Estado na região francófona de África.
De igual modo, a chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna, afirmou no início de agosto que o golpe no Níger se tratava de "um golpe de Estado a mais".
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