Libertado em janeiro de 2022, após 18 meses de prisão, Bekele Gerba renunciou ao cargo de vice-presidente do Congresso Federalista Oromo (OFC, na sigla em inglês), o principal partido da oposição que representa este grupo étnico.
Os Oromo são a etnia mais numerosa da Etiópia, um país federal dividido em estados regionais de acordo com linhas etnolinguísticas.
"Decidi não regressar à Etiópia e já apresentei o meu pedido de asilo ao governo dos Estados Unidos", disse Bekele à agência France-Presse, acrescentando que tinha enviado a sua carta de demissão do cargo ao presidente da OFC, Merera Gudina.
Nos Estados Unidos, onde se encontra desde junho de 2022, disse ter-se apercebido de que a situação política na Etiópia se está a deteriorar constantemente com "intimidações, assassínios em massa e detenções", explicou.
"O contexto político não é propício à luta pacífica a que o OFC aspira. Não é possível reunir com pessoas, pelo que senti que não tinha motivos para regressar à Etiópia", continuou.
"Temo pela minha vida. Já fui preso três vezes no passado (...) Desta vez, a minha vida está ameaçada. Não creio que me vão simplesmente meter na prisão. Eu não estou seguro, a minha família não está segura", assegurou.
Bekele passou um total de mais de sete anos na prisão desde 2011, preso duas vezes pela coligação dominada pela minoria da região do Tigray, que governou a Etiópia durante quase 30 anos e depois pelo governo que lhe sucedeu, liderado por Abiy Ahmed.
Foi detido pela primeira vez durante quase quatro anos, entre 2011 e 2015, e depois durante quase três anos, entre o final de 2015 e o início de 2018, durante a repressão dos protestos da oposição que levariam Abiy ao poder.
Regressou à prisão em meados de 2020, após a violência desencadeada na região de Oromia e em Adis Abeba pelo assassínio do cantor Hachalu Hundessa, porta-estandarte do povo Oromo.
Em janeiro de 2022 foi libertado ao abrigo de uma amnistia, juntamente com várias figuras da oposição etíope.
Bekele negou que tenha sido libertado em troca da sua saída do país: "Não houve qualquer acordo com o governo, isso é ridículo. Se tivesse havido um acordo, eu não teria voltado a criticar o Governo".
Pessimista quanto ao futuro da Etiópia, considera que o país "está a desintegrar-se".
"A situação vai piorar nos próximos meses ou anos se nada for feito", disse.
Outra figura da oposição Oromo libertada ao mesmo tempo que Bekele, Jawar Mohamed, um antigo aliado de Abiy, deixou a Etiópia alguns meses depois e desde então vive no estrangeiro.
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