Numa conversa por telefone, realizada no domingo, o chefe da diplomacia iraniana, Hossein Amir-Abdollahian, disse ao homólogo chinês, Wang Yi, que Teerão espera fortalecer a cooperação com Pequim nos assuntos regionais e internacionais.
"O Irão atribui grande importância ao desenvolvimento da parceria estratégica abrangente com a China e espera manter intercâmbios de alto nível com a China, aprofundando a cooperação, no âmbito da iniciativa 'Faixa e Rota'", disse Amir-Abdollahian, segundo um comunicado hoje emitido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
A mesma nota informativa disse que Pequim vai apoiar o Irão em questões relacionadas com os interesses centrais dos dois lados.
"A China está disposta a opor-se conjuntamente à interferência externa, resistir ao abuso unilateral, defender os interesses de soberania, segurança e desenvolvimento dos dois países, salvaguardar os interesses comuns dos países em desenvolvimento e a imparcialidade e justiça internacional", lê-se no mesmo comunicado.
O Irão é um dos países convidados a participar na cimeira dos BRICS, o bloco de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A cidade sul-africana de Joanesburgo vai acolher a partir de terça-feira, e até à próxima quinta-feira, a 15.ª cimeira do bloco.
O grupo reuniu-se pela primeira vez em 2009 e estabeleceu uma agenda focada na reforma da ordem internacional, visando maior protagonismo dos países emergentes em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional. O bloco passou a incluir a África do Sul no ano seguinte.
Os BRICS ganharam renovada importância no contexto da imposição de sanções contra a Rússia, visando isolar o país do comércio internacional, na sequência da invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
Na visão de Pequim e Moscovo, a ascensão dos BRICS ilustra a emergência de "um mundo multipolar", expressão que concentra a persistente oposição dos dois países ao "hegemonismo" ocidental, em particular dos Estados Unidos.
Observadores consideram que a China vai pressionar esta semana o bloco para se tornar um rival em grande escala do grupo dos sete países mais industrializados (G7).
No entanto, a posição de Pequim não é partilhada por outros membros. Em particular, África do Sul e Índia recusam que o bloco se converta numa força política que desafie abertamente o Ocidente.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Naledi Pandor, disse este mês que é "extremamente errado" ver uma potencial expansão do bloco como uma decisão contra o Ocidente.
No entanto, a possível inclusão do Irão seria entendida como um passo no sentido de converter o bloco numa força antagonista à atual ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos.
Na semana passada, o Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, falou com o homólogo russo, Vladimir Putin, sobre a potencial adesão de Teerão.
Ainda na conversa com o ministro iraniano, Wang Yi abordou o acordo histórico mediado pela China entre o Irão e a Arábia Saudita, que restaurou as relações diplomáticas entre os dois países, após um corte que durou nove anos.
O acordo gerou uma "maré de reconciliação", afirmou o ministro chinês, citado na nota informativa.
"A China aprecia a decisão correta do Irão e vai continuar a apoiar os países do Médio Oriente na exploração de um caminho de desenvolvimento que se adapte às suas próprias condições nacionais", disse Wang, destacando a necessidade de "unidade" entre os países vizinhos.
De acordo com o comunicado chinês, os dois lados também abordaram o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano. O anterior líder norte-americano Donald Trump retirou unilateralmente os Estados Unidos do pacto em 2018.
"Apenas restaurando a implementação completa e efetiva do Plano de Ação Abrangente Conjunto, a questão nuclear iraniana pode ser resolvida", disse Wang Yi, utilizando o nome oficial do acordo.
"A China está disposta a fortalecer a coordenação com todas as partes, incluindo o Irão, para promover o desenvolvimento da questão nuclear iraniana numa direção favorável à manutenção da paz e estabilidade regional", frisou.
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