"As provas recolhidas apontam para um aumento dramático dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade no país, com ataques generalizados e sistemáticos contra civis", disse o Mecanismo de Investigação Independente da ONU para Myanmar (IIMM).
O relatório anual do organismo criado em 2018 pelo Conselho de Direitos Humanos corrobora informações de outras instituições da ONU, organizações não-governamentais e governos sobre a violência em Myanmar desde o golpe de Estado de 2021.
No relatório divulgado em Genebra, Suíça, o IIMM acusou o exército birmanês e as milícias afiliadas de "cometerem crimes de guerra com frequência e descaramento crescentes".
Referiu os bombardeamentos aéreos indiscriminados, a destruição de aldeias e os massacres de civis e de combatentes detidos, bem como a tortura e a violência sexual hedionda.
As provas recolhidas poderão ser usadas para processar os autores dos crimes, disse o IIMM no relatório, citado pela agência francesa AFP.
O país do Sudeste Asiático vive um conflito civil que já provocou mais de três mil mortos e centenas de milhares de deslocados desde o golpe militar de 01 de fevereiro de 2021.
O golpe derrubou o governo eleito da líder da Liga Nacional para a Democracia, Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz em 1991.
"Cada perda de vida em Myanmar é trágica, mas a devastação causada a comunidades inteiras por bombardeamentos aéreos e incêndios em aldeias é particularmente chocante", disse o chefe do IIMM, Nicholas Koumjian, em comunicado.
Os membros do IIMM nunca foram autorizados pela Junta Militar a visitar Myanmar, mas entrevistaram mais de 700 fontes.
Também recolheram e processaram "mais de 23 milhões de itens de informação", incluindo declarações de testemunhas, documentos, fotografias, vídeos, provas forenses e imagens de satélite.
O IIMM disse querer "acelerar a recolha de provas dos crimes internacionais mais graves" para que possam ser partilhadas com investigadores, procuradores e tribunais capazes de julgar os responsáveis por esses crimes.
O mecanismo da ONU já coopera com o Tribunal Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional, entre outras organizações.
O IIMM centra-se na responsabilidade de indivíduos específicos e, em particular, de funcionários de alto nível.
Detida desde o golpe de 2021, Aung San Suu Kyi, 78 anos, cumpre uma pena de 33 anos de prisão a que foi condenada por alegados crimes de fraude.
A pena foi reduzida em seis anos pela Junta Militar em 01 de agosto.
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