Ike Ekweradu, de 60 anos, a sua mulher, Beatrice, de 56 anos, e um médico que serviu de intermediário, foram condenados, em março, por terem organizado a viagem da vítima, um vendedor ambulante de 21 anos de Lagos, ao Reino Unido para lhe ser retirado um rim.
Os três foram condenados ao abrigo da Lei da Escravatura Moderna do Reino Unido, que foi utilizada pela primeira vez num caso de colheita de órgãos.
A mulher de Ekweremadu foi condenada a quatro anos e seis meses de prisão, enquanto o médico, Obinna Obeta, de 51 anos, foi condenado a 10 anos.
Os três arriscavam uma condenação a prisão perpétua.
"Todos vós participastes num comércio desprezível", declarou o juiz Jeremy Johnson ao proferir a decisão, que os arguidos receberam sem reação.
"O tráfico de órgãos humanos é uma forma de escravatura. Trata os seres humanos e as partes do seu corpo como materiais que podem ser comprados e vendidos", frisou o juiz.
A filha do casal, Sónia, de 25 anos, foi ilibada. Presente na leitura da sentença, acenou aos pais quando estes foram conduzidos para fora da sala de audiências.
O caso foi acompanhado atentamente na Nigéria, onde - como a acusação salientou no início do julgamento - a família Ekweremadu tem "poder e influência".
Antigo vice-presidente do Senado, Ekweremadu é ainda oficialmente deputado, uma vez que o novo Senado, eleito no início do ano, ainda não tomou posse.
Neste caso, os arguidos "utilizaram a sua influência política e o seu poder para controlar um jovem vulnerável devido à sua situação económica", declarou à imprensa Andy Furphy, chefe da Unidade de Escravatura Moderna e Exploração Infantil da polícia londrina.
Ao contrário do casal Ekweremadu, a vítima é um jovem desfavorecido, vendedor ambulante em Lagos.
Segundo a acusação, foram-lhe prometidas até 7.000 libras (7. 800 euros), com a promessa de trabalhar e permanecer no Reino Unido.
Durante o julgamento, o jovem disse que pensava ter viajado para o Reino Unido para trabalhar e que só se apercebeu que se tratava de um transplante de órgãos quando foi confrontado com médicos britânicos.
A família Ekweremadu pediu à vítima que se fizesse passar por prima de Sónia.
No Reino Unido, é legal doar um rim de forma altruísta, por exemplo, para um familiar, mas é ilegal fazê-lo por uma "recompensa" financeira ou material.
Depois de perceber o verdadeiro motivo da sua deslocação para Inglaterra, a vítima foi à polícia em maio de 2022 para denunciar o caso e "procurar alguém que lhe salvasse a vida", conforme afirmou durante o julgamento.
A operação não se realizou e o casal Ekweremadu foi detido no aeroporto de Heathrow, em Londres, em junho.
Ike Ekweremadu, eleito pelo Partido Democrático Popular, da oposição, numa circunscrição do sudeste da Nigéria, foi impedido de concorrer às recentes eleições por se encontrar em prisão preventiva, segundo a acusação, invocando riscos de fuga.
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