O mercado de transferências de verão ainda mal abriu, mas o FC Porto já demonstrou estar empenhado em deixar para trás uma temporada 'para esquecer', na qual que só mesmo a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, logo no primeiro jogo da temporada, deu aos adeptos motivos para sorrir.
Feitas as contas, até ao momento, os dragões já investiram perto de 50 milhões de euros nas aquisições de Gabri Veiga ao Al-Ahli Jeddah, de Borja Sainz ao Norwich City, de Dominik Prpic ao Hajduk Split e de Nehuén Pérez (que, em 2024/25, atuou na qualidade de emprestado) à Udinese. Isto, sem esquecer os cinco milhões de euros pagos ao Atlético de Madrid para garantir os derradeiros 15% dos direitos económicos de Samu Aghehowa.
Esta manobra fez do internacional espanhol o mais caro reforço da história do futebol português, visto que, feito as contas a todas as parcelas (duas de cinco milhões de euros por duas 'fatias' de 15% do passe, uma de sete milhões de euros por 20% e os iniciais 15 milhões de euros por 50%), custou qualquer coisa como 32 milhões de euros.
Valores elevados, ainda para mais, tendo em conta que, poucos meses depois de ter sido eleito presidente da formação azul e branca, em abril de 2024, André Villas-Boas concedeu uma extensa entrevista ao jornal francês L'Équipe, dando conta do estado em que o antecessor, Jorge Nuno Pinto da Costa, lhe 'passou a pasta'.
"A situação era, realmente, de limite. Se não tivéssemos sido eleitos, penso que o clube teria sido vendido a um fundo americano dentro de um ou dois anos, no máximo. Havia oito mil euros na conta à ordem", confidenciou, na altura. Então, afinal, como é que, tão pouco tempo depois, tanto dinheiro foi investido? O Desporto ao Minuto enumera-lhe todas as manobras financeiras realizadas.
Acordo com a Ithaka 'esticado'
Um dos primeiros dossiês tratados pela direção liderada por André Villas-Boas foi o da Ithaka Infra III, sociedade espanhola que adquiriu 30% da Porto Stadco SA, assumindo a exploração comercial do Estádio do Dragão, após a cisão da Porto Comercial. O acordo inicial foi assinado por Jorge Nuno Pinto da Costa, mas, após renegociação, esta conseguiu alargar o encaixe financeiro em dez milhões de euros, para 50 milhões de euros.
"Ao contrário do que a administração anterior referia, não bastava devolver o dinheiro, até porque esse dinheiro nunca entrou. Não era bem devolver o dinheiro e rescindir contrato, porque havia cláusulas de saída bastante onerosas para o clube e a negociação a que chegámos foi possível porque também encontrámos, da parte da Ithaka, bastante flexibilidade", afirmou, na altura, o diretor financeiro, José Pereira da Costa.
"Tendo em conta que iriam celebrar uma parceria de 25 anos com o FC Porto, quiseram assegurar que também ficaríamos confortáveis durante esse período", acrescentou, em entrevista concedida ao jornal O Jogo, sublinhando: "É mais 25%, que nos dá a possibilidade de entrarmos numa nova vida em termos de pressões de tesouraria, que são grandes".
Dívida renegociada e obrigações emitidas
André Villas-Boas prometeu e cumpriu. Em novembro, sete meses após ter sido eleito, o antigo treinador completou a renegociação da dívida do FC Porto, emitindo obrigações no valor global de 115 milhões de euros, com 5,62% de taxa de juro, e com um pagamento a 25 anos. Uma operação que teve como objetivo "efinanciar o passivo existente e a financiar a atividade global do FC Porto".
"Esta é uma operação da qual nos orgulhamos muito, é um passo histórico para o FC Porto. Dará outra credibilidade junto a fornecedores, clubes e agentes, em relação aos quais o clube foi acumulando uma dívida substancial. Em realidade, é uma dívida contraída para pagar dívida, mas que nos permite em linha com os próximos 25 anos crescer a nível operacional, comercial e desportivo, sobretudo. Além disso, permite-nos lidar com o dia a dia de outra forma", explicou o próprio.
Para lá chegar, os responsáveis azuis e brancos abateram qualquer coisa como 45 milhões de euros em dívidas a clubes e fornecedores. Para tal, foram utilizadas, por exemplo, as receitas provenientes da Liga Europa, superando, desta maneira, o controlo financeiro da UEFA.
'Vassourada' no plantel
André Villas-Boas nunca escondeu divergências com Jorge Nuno Pinto da Costa relativamente à política desportiva, com especial enfoque no planeamento do mercado de transferências, e a verdade é que, assim que assumiu o cargo, levou a cabo uma autêntica 'vassourada' no plantel.
Evanilson saiu para o Bournemouth, por 37 milhões de euros, Wenderson Galeno para o Al-Ahli Jeddah, por 50 milhões de euros, Nico González para o Manchester City, por 60 milhões de euros, e David Carmo para o Nottingham Forest, por 11 milhões de euros. Isto, sem contabilizar saídas de menor dimensão, como a de Fran Navarro para o Sporting de Braga ou de Toni Martínez para o Alavés.
No entanto, este processo não irá ficar por aqui. O próximo a abandonar o Dragão será, ao que tudo indica, Francisco Conceição, por quem a Juventus irá pagar 32 milhões de euros, isto depois de, no passado verão, já ter aberto mão de dez milhões de euros para o recrutar, a título de empréstimo. Uma verba que o FC Porto encaixará na totalidade, visto que o internacional português abdicou dos 20% (cerca de seis milhões de euros) a que teria direito.
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