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Sondagem revela aumento do apoio europeu a Kyiv numa unidade frágil

Uma sondagem realizada em dez países europeus, incluindo Portugal, revela um apoio generalizado à Ucrânia, na guerra iniciada com a invasão russa em 2022, vendo Rússia como um adversário, mas há fatores que podem alterar esta unidade.

 Sondagem revela aumento do apoio europeu a Kyiv numa unidade frágil
Notícias ao Minuto

21:05 - 16/03/23 por Lusa

Mundo Guerra na Ucrânia

Segundo a sondagem do Conselho Europeu de Relações Internacionais (CERI), que promove na sexta-feira uma conferência em Lisboa sobre "A unidade europeia e a realidade geopolítica alterada", existe uma "fusão" de opiniões políticas entre nacionalistas e liberais, entre esquerda e direita, em relação à guerra na Ucrânia.

Os autores do estudo, os politólogos Ivan Krastev e Mark Leonard, afirmam que "é generalizada a perceção de que União Europeia (UE) e os Estados Unidos "estão agora mais fortes do que há um ano" e 82% dos inquiridos veem a Rússia como um "adversário" ou "rival".

No entanto, advertem, "a pressão sobre o custo de vida e o potencial ressurgimento da migração poderão destruir a posição conjunta da Europa" sobre a Ucrânia, e, neste capítulo, a unidade é especialmente vulnerável a mudanças de posição dos norte-americanos.

Nos próximos meses, prosseguem os autores, a perceção dos europeus "será provavelmente moldada mais pela inflação e pelas questões do nível de vida do que pelos acontecimentos na frente de batalha".

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada em 24 de fevereiro do ano passado, a Europa está a demonstrar "uma unidade e determinação surpreendentes em fazer o que for preciso para apoiar a independência de Kiev".

O novo relatório do "Unidade frágil: por que os europeus estão a unir-se pela Ucrânia (e o que pode separá-los)" foi realizado com base numa sondagem levada a cabo no início de janeiro de 2023 em dez países europeus (Dinamarca, Estónia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Polónia, Portugal, Roménia e Espanha), com um total de 14.439 inquiridos, 1.057 dos quais portugueses.

O relatório aponta igualmente para a diminuição de divergências entre os aliados ocidentais e que, quer à esquerda quer à direita, os partidos estão mais próximos no apoio a Kiev.

"Esta posição mostra que a opinião pública na Europa já não pretende acabar com a guerra o mais depressa possível, preferindo esperar pela recuperação do território pelas tropas ucranianas", indica o documento.

A perceção sobre a Rússia também endureceu: 66% veem agora Moscovo como um "adversário" ou "rival" do seu país; 40% considera que a Rússia está agora mais fraca do que antes do lançamento da sua "operação especial" e apenas 13% a veem como mais forte.

A UE é agora vista como "mais forte" do que há um ano, em quase todo o lado, com a exceção de Itália, e Portugal destaca-se com 58% dos inquiridos a expressarem esta opinião, mas também existem percentagens relevantes noutros países: Dinamarca (55%), Polónia (54%), Roménia (51%), Estónia (48%), Espanha (47%), Alemanha (45%) e França (41%).

Segundo relatório, "a determinação do exército ucraniano, aliada ao sucesso em fazer recuar a ofensiva russa, conquistou apoiantes anteriormente pessimistas", quando a opinião prevalecente era de que a guerra deveria terminar o mais depressa possível, com a exceção da Polónia.

Nos dez países inquiridos, há uma média de 29% a querer que a guerra termine o mais depressa possível, enquanto 38% querem que a Ucrânia recupere todo o seu território, "mesmo que isso seja sinónimo de um conflito mais prolongado", um desejo acompanhado de "um amplo consenso político".

A Rússia é vista como um "adversário" ou "rival" por todos os países europeus inquiridos. Esta posição foi mais acentuada na Dinamarca (82%), mas também sólida e com uma maioria na Estónia (79%), que partilha uma fronteira terrestre com a Rússia, na Polónia (79%), na Grã-Bretanha (77%), na Alemanha (69%), em Espanha (65%), em França (59%), em Portugal (57%) e em Itália (54%) e somente mais branda na Roménia (44%).

Ainda sobre a Rússia, ao contrário da perceção sobre a UE, 47% dos inquiridos, em média veem-na mais fraca do que há um ano, contra 32% que consideram forte ou mais forte.

A opinião, porém, "dividiu-se em Itália (42% forte ou mais forte contra 39% fraco ou mais fraco), posição que, afirmam os autores, "é, contudo, menos uniforme".

Quando lhes é dada escolha, "mais apoiantes dos Irmãos de Itália, o partido no Governo, preferiam parar a guerra o mais depressa possível, mesmo que isso signifique a cedência do território da Ucrânia, em vez de um longo cenário de guerra em que a Ucrânia venha a recuperar todo o seu território (42% contra 32%)".

Esta posição está alinhada com outros partidos da mesma família política: a União Nacional, o partido francês de Marine Le Pen (39% contra 30%), o Vox em Espanha (35% contra 31%) e o Chega em Portugal (42% contra 28%).

Por outro lado, as preocupações com o custo de vida estão a aumentar, em comparação com maio de 2022.

"Estes receios de não conseguir fazer face às despesas foram mais acentuados em Itália, onde 34% dos inquiridos (contra 25%) identificaram este facto como a principal preocupação relativa à guerra entre a Rússia e a Ucrânia" e outros "aumentos acentuados" em Espanha (21% em maio de 2022 contra 28% em janeiro de 2023), França (27% contra 31%), Portugal (25% contra 29%) e Roménia (17% contra 21%).

As perceções sobre os EUA também melhoraram, "com uma maioria em todos os países inquiridos a considerá-los agora mais fortes do que há um ano, ou pelo menos tão forte como anteriormente", e vistos como um aliado ou um parceiro necessário pela maioria nos dez países europeus inquiridos.

Segundo os autores, o aumento do apoio dos europeus a Kiev deve-se aos êxitos do exército ucraniano no campo de batalha, e, no sentido contrário, de a Rússia é vista como uma potência global "mais fraca", e de uma menor preocupação com a perspetiva de uma escalada nuclear.

Os politólogos avisam, contudo, que esta unidade não deve ser dada como garantida e recomendam aos líderes europeus a utilizar este espaço para alcançar progressos na melhoria da resiliência do bloco.

"Por outras palavras, isto implica fazerem o que podem para equipar a Ucrânia, pôr em prática políticas sobre o custo de vida e a gestão dos refugiados, e, acima de tudo, aproveitar ao máximo os próximos 18 meses para se tornarem imunes às mudanças políticas do outro lado do Atlântico", aconselham.

"Se conseguirem concretizar estes elementos, poderão constatar que a opinião pública se manterá forte, ao contrário das expectativas do Kremlin", acrescentam.

Leia Também: "Venham à Rússia buscar nabos". Putin troça de dificuldades no Ocidente

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