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ONU revela discórdia no poder talibã sobre discriminação das mulheres

A chefe da Missão da ONU no Afeganistão (UNAMA), Roza Otunbayeva, acusou hoje os talibãs de "dividir severamente o país por género", mas disse acreditar na existência de uma fação dentro do grupo fundamentalista que discorda da atual direção.

ONU revela discórdia no poder talibã sobre discriminação das mulheres
Notícias ao Minuto

17:28 - 08/03/23 por Lusa

Mundo Afeganistão

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para debater a situação no Afeganistão, Roza Otunbayeva frisou que o país, sob domínio talibã desde agosto de 2021, continua a ser o mais repressivo do mundo em relação aos direitos das mulheres.

"Hoje é o Dia Internacional da Mulher, mas tenho poucas mensagens de conforto para as mulheres e meninas no Afeganistão. As proibições contra mulheres de trabalharem, estudarem, viajarem sem companhia masculina e até mesmo de irem a parques ou casas de banho continuam em vigor", relatou a chefe da UNAMA.

"Num momento em que o Afeganistão precisa de todo o seu capital humano para se recuperar de décadas de guerra, metade dos potenciais médicos, cientistas, jornalistas e políticos do país está fechada nas suas casas, com os seus sonhos esmagados e os seus talentos confiscados", acrescentou, referindo-se à população feminina do país.

Roza Otunbayeva advogou que a proibição das mulheres frequentarem o ensino superior ou trabalharem em organizações não-governamentais (ONG) tem sérias consequências para a população afegã e para a relação entre os talibãs e a comunidade internacional, frisando que o financiamento internacional para o Afeganistão provavelmente será cancelado se as mulheres não puderem trabalhar.

As discussões sobre o fornecimento de maior assistência ao desenvolvimento, incluindo pequenas infraestruturas e políticas para mitigar os efeitos das alterações climáticas, foram interrompidas devido a essas proibições, alertou a ONU.

"Entendemos que os talibãs têm uma visão de mundo muito diferente de qualquer outro governo, mas é difícil entender como um governo digno desse nome pode governar contra as necessidades de metade da sua população", criticou Otunbayeva, salientando que as expectativas reais do povo afegão é que o país não seja o mais retrógrado do mundo em relação aos direitos das mulheres.

A par de todas as restrições impostas às mulheres, o Afeganistão "continua a ser a maior crise humanitária do mundo", com dois terços da população - 28 milhões de pessoas - a precisarem de assistência humanitária este ano para sobreviver, e com quase metade da população - 20 milhões de pessoas - a viver em níveis críticos de insegurança alimentar.

Segundo a ONU, cerca de seis milhões de pessoas no país estão em risco de fome.

De acordo com Roza Otunbayeva, o regime talibã tem impedido a prestação de assistência à população, impondo "condições inaceitáveis à sua distribuição".

Por outro lado, a líder da UNAMA indicou que existe uma fação dentro da liderança talibã, e em todo o movimento, que não concorda com a atual direção que o grupo fundamentalista está a tomar.

"Essa fação entende que é preciso estar atento às reais necessidades do povo. Talvez possa eventualmente executar uma mudança de direção. Mas o tempo está a acabar", alertou.

Otunbayeva aproveitou ainda a reunião para pedir que o mandato da UNAMA seja renovado por mais um ano, argumentando que a missão envolve-se diariamente com as autoridades locais, com a oposição política, sociedade civil, atores do setor privado e, cada vez mais, com a juventude afegã, "que irá herdar o futuro que está a ser moldado".

O apelo de Otunbayeva surge num momento de negociações entre os membros do Conselho de Segurança da ONU sobre a renovação do mandato da UNAMA, que termina em 17 de março.

O último relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a situação no Afeganistão, datado de 27 de fevereiro, recomenda que seja prorrogado por mais 12 meses.

Antes de a reunião ter início, 10 dos 15 membros do Conselho de Segurança emitiram uma nota conjunta expressando grande preocupação com a "terrível situação" dos direitos humanos de mulheres e meninas no Afeganistão.

"Exigimos que os talibãs revertam imediatamente todas as medidas opressivas contra mulheres e meninas e respeitem os direitos humanos de todo o povo afegão em toda a sua diversidade, pessoas com deficiência, pessoas pertencentes a grupos étnicos e religiosos minoritários, jovens, crianças, e outros", indicou a nota conjunta.

O comunicado, assinado pela Albânia, Brasil, Equador, França, Gabão, Japão, Malta, Suíça, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido, defende que a recuperação no Afeganistão não pode acontecer sem a participação plena, igualitária e significativa das mulheres em todos os aspetos da vida política, económica e social do país.

Os signatários reafirmaram ainda um "forte apoio" à UNAMA e defenderam a renovação do seu mandato para que "assegure a preservação das mulheres, da paz e dos elementos de segurança".

Leia Também: Afeganistão é o país mais repressivo do mundo para as mulheres

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