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Crise no Chile exige "cidadania e redistribuição do pode", diz académica

A escritora e socióloga peruana Irma del Águila defende que a resposta à atual crise político-social no seu país exige "cidadania e redistribuição do poder" em torno de "um novo pacto social".

Crise no Chile exige "cidadania e redistribuição do pode", diz académica
Notícias ao Minuto

09:57 - 17/02/23 por Lusa

Mundo Peru

"A tarefa urgente é construir consenso em torno da mudança constitucional no Peru", disse Irma del Águila em entrevista à agência Lusa, a propósito da instabilidade política no país da América do Sul, com protestos antigovernamentais em que já morreram pelo menos 60 pessoas desde o início de dezembro.

Nos últimos anos, a professora universitária de Lima, capital do Peru, foi observadora em diferentes iniciativas internacionais, integrando a missão conjunta da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da ONU para os direitos humanos no Haiti e as missões eleitorais da OEA no Haiti e na Colômbia, além de observadora do plebiscito pela paz na Colômbia, em 2016.

"As mobilizações, especialmente no sul dos Andes [nas cidades de Ayacucho, Puno, Cuzco, Arequipa, entre outras], são explicadas em grande parte por identificações de classe, étnicas e regionalistas. Além disso, traduzem uma crítica às elites de Lima e ao centralismo asfixiante", considerou.

Entre esses peruanos, enfatizou, "há um sentimento de frustração e raiva em muitos casos, por práticas diárias de discriminação com base no apelido, na cor da pele e no uso do espanhol puro".

"No fim de contas, no dia-a-dia, uma pessoa chamar-se Quispe não é o mesmo que Alvarez Calderón", exemplificou Irma del Águila, ao recordar que "todos esses sentimentos acumulados têm sido reprimidos e transbordaram" após o ex-presidente Pedro Castillo, eleito em 2021 pelo partido Peru Livre, ter sido destituído, em 7 de dezembro, e preso preventivamente por 18 meses.

Desde essa altura, segundo a socióloga, a repressão da Polícia Nacional e do Exército "tem sido brutal, como não se via há muitos anos", tendo pelo menos nove manifestantes sido mortos em "confrontos desiguais", em Juliaca, devido a disparos de armas de fogo proibidas pela lei peruana.

Entretanto, a Procuradoria do Peru confirmou esta semana que iniciou uma investigação aos militares pelo alegado homicídio de 10 manifestantes em Ayacucho, em 15 de dezembro.

"Mesmo quando grupos de populares tentaram tomar os aeroportos de Juliaca, Arequipa, Cuzco e Ayacucho, não se justificou a utilização de armas letais", vincou a escritora à Lusa, lamentando que, "apesar das evidências das perícias", não foram efetuadas prisões preventivas de polícias e militares.

Na sua opinião, "a brutalidade da intervenção policial em Lima, dias depois, sugere que há uma decisão política de reprimir a qualquer custo" quem contesta o governo da presidente Dina Boluarte.

"Atualmente, são poucas as soluções constitucionais para a crise", admitiu Irma del Águila, acrescentando que, ante a "ausência de soluções para a crise por parte do Congresso, resta apenas" a saída de Dina Boluarte, que há dois meses substituiu Pedro Castillo e cuja demissão tem sido exigida nos protestos.

A Constituição da República prevê que as eleições de um novo presidente e do Congresso da República "são convocadas imediatamente" depois da renúncia do chefe de estado.

"O sul andino exigiu, desde a primeira hora, a libertação de Castillo e a sua reintegração na presidência", recordou, prevendo, contudo, ser "muito difícil" os tribunais virem a suspender a prisão preventiva do ex-presidente, que quis dissolver o Congresso.

Para a socióloga e professora universitária, Pedro Castillo "é responsável" por uma tentativa de golpe, "crime muito grave pelo qual deve ser julgado".

"O apoio a Castillo após a sua queda, particularmente no sul dos Andes, com forte presença da população 'quechua' e 'aymara', denota uma forte identificação com o ex-presidente, que é um homem de origem rural, professor de uma província remota, líder sindical e rejeitado pela elite de Lima", concluiu Irma del Águila.

Entre outras obras, algumas premiadas, a escritora peruana publicou desde 2011 os romances 'Moby Dick en Cabo Blanco', 'El hombre que había del cielo', 'La isla de Fushía' e 'Mujer rota'.

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