Meteorologia

  • 28 ABRIL 2024
Tempo
10º
MIN 10º MÁX 17º

Esquerda italiana "chocada" com escândalo de corrupção de ex-eurodeputado

O papel de Antonio Panzeri, ex-eurodeputado do Partido Democrático italiano (PD, centro-esquerda), no escândalo que levou à detenção da vice-presidente do Parlamento Europeu (PE) Eva Kaili está a "chocar" o partido e sindicatos, temendo-se um terremoto político.

Esquerda italiana "chocada" com escândalo de corrupção de ex-eurodeputado
Notícias ao Minuto

17:35 - 13/12/22 por Lusa

Mundo Qatargate

Pierfrancesco Majorino, eurodeputado do PD, integrado no grupo dos Socialistas e Democratas no PE, disse à Lusa conhecer Panzeri "há muito tempo" e ter ficado "chocado" com a notícia da sua detenção, juntamente com Kaili, o marido desta Francesco Giorgi e outros acusados pela Justiça belga num caso de alegado recebimento de 'luvas' do Qatar.

"Nunca pensei que [Panzeri] pudesse estar envolvido num escândalo tão vergonhoso e com um quadro tão perturbador", acrescenta Majorino, que é hoje o candidato do PD à presidência da Região da Lombardia.

Para Majorino, foi "uma loucura" a atribuição do Mundial de futebol ao Qatar.

"Não foi preciso uma investigação criminal para entender que o Qatar é um país modelo para a violação sistemática dos direitos humanos. Sempre votei na Europa para mostrar a maior dureza para com este país", disse à Lusa Majorino.

No total, foram apreendidos nos apartamentos dos visados mais de um milhão e meio de euros em numerário, que segundo os magistrados vieram do Qatar.

Os pagamentos, segundo as denúncias, foram feitos para mitigar as posições do PE sobre os direitos humanos neste país.

O 'pivot' da investigação é Panzeri, ex-eurodeputado há 15 anos no Parlamento Europeu. No final da última legislatura, em 2019, Panzeri decidiu fundar a organização não-governamental (ONG) "Combate à Impunidade", que segundo os magistrados é o canal por onde o dinheiro chegava aos suspeitos.

Para Majorino, uma das questões trazidas à tona por esta investigação é a transparência das atividades das ONGs, e é necessária uma intervenção rápida.

"A esquerda não deve colocar-se fora desta história. Não pode dizer que não lhe diz respeito. Temos que ser muito duros internamente", acrescenta Majorino.

"É preciso intervir na questão dos lóbis, é preciso que haja mais transparência sobre as atividades de quem influencia o voto dos parlamentares europeus", adiantou à Lusa.

Giuseppe Guastella, correspondente do jornal Corriere della Sera em Bruxelas, equipara o caso ao 'Tangentopoli', um escândalo político-financeiro italiano no início dos anos 1990 que fez desaparecer todos os grandes partidos da época, alvo de investigações de corrupção, e que permitiu a Silvio Berlusconi e ao seu partido imporem-se na cena política.

"Parece que recuámos no tempo. Nos últimos anos, vimos criminosos e pessoas corruptas usarem transferências no estrangeiro ou 'bitcoin' para movimentar dinheiro. Aqui, parece que voltamos aos tempos de 'tangentopoli'", disse à Lusa Giuseppe Guastella.

"Há um uso inescrupuloso de dinheiro. É impressionante como este rio de notas conseguiu chegar ao topo do Parlamento sem que ninguém percebesse", adiantou Guastella.

Panzeri cresceu politicamente em Milão, onde foi secretário da filial local do CGIL, o maior sindicato italiano, durante 8 anos. Em reação ao caso, o sindicato divulgou uma nota em que os ex-colegas de Panzeri manifestam "perplexidade" e afirmam que "os direitos dos trabalhadores e as lutas pela defesa, dignidade e promoção do trabalho não podem ser trocados de forma alguma".

O facto de este escândalo ter ocorrido no seio de um grupo que sempre esteve atento aos direitos dos trabalhadores é vivido por alguns expoentes da esquerda italiana como uma "traição".

"Trocar os direitos fundamentais dos trabalhadores por dinheiro e presentes dos senhores feudais do Qatar é uma traição total aos valores democráticos", escreveu nas redes sociais Andrea Orlando, líder do PD.

Enquanto os magistrados belgas prosseguem investigações, Guastella espera que nas próximas horas surjam mais notícias: "Acredito que do exame dos documentos apreendidos, do material informático encontrado e dos interrogatórios surgirão outros pormenores que conduzirão a novos desdobramentos", disse.

Leia Também: Ex-vice do PE e outros suspeitos tinham mais de 1,5 milhões em casa

Recomendados para si

;
Campo obrigatório