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Custo de vida obriga famílias moçambicanas a cortarem no cabaz alimentar

O custo de vida em Maputo obrigou Luísa a comer mais hortaliça, Ana a abdicar da carne de vaca, Ismael a comprar luz aos bocados e Adelaide a lembrar à Frelimo que vai precisar dela nas próximas eleições.  

Custo de vida obriga famílias moçambicanas a cortarem no cabaz alimentar
Notícias ao Minuto

08:22 - 11/12/22 por Lusa

Mundo Maputo

A vender há mais de 20 anos no mercado do Xipamanine, um dos maiores de Maputo, Luísa Timane diz à Lusa que nunca testemunhou uma crise como a atual, que até lhe mudou os hábitos.

"Só conseguimos [eu e o meu marido] comprar hortaliça para casa, agora é só comprar hortaliça e pão para as crianças", relata, enquanto espera por clientes na banca a céu aberto, onde vende batata e cebola em sacos.

Antes voltava a casa às 15:00, porque a mercadoria acabava cedo, mas agora tem de esperar até cerca das 18:00, porque os compradores querem regatear o preço e comprar o saco de dez quilos de cebola por 550 meticais (oito euros), o mesmo com que Luísa Timane adquire no mercado grossista do Zimpeto, em Maputo, ficando sem margem de lucro.

Ana Hobjana, que vende roupa usada no Xipamanine, diz que eliminou a carne das suas compras e adquire pouco arroz e farinha de milho, porque as contas estão apertadas.

"Está tudo carro, já nem cebola ponho na comida, está tudo tão carro que deixamos tudo nas mãos de Deus", enfatiza Hobjana, deixando escapar a descrença no poder humano para mudar a situação.

Ismael Raul Mussá saiu da Ilha de Moçambique, norte do país, para a capital, há 15 anos, à procura de uma vida melhor, mas diz que a situação só piora a cada dia que passa.

"Com energia elétrica de 200 meticais [cerca de três euros], não levo nem três dias, agora tenho que comprar energia todos os dias", porque a companhia elétrica estatal agravou o preço de luz, diz.

Há uns meses, comprava 25 quilos de arroz, mas com o aumento do preço do produto, passou a adquirir 10 quilos, para a sua família de cinco pessoas.

Em casa já não tomam refresco, e além de alimentos, Ismael Raul Ali tem de pagar os estudos dos três filhos

Carpinteiro e muçulmano, corta a entrevista com um recital do alcorão em árabe, que depois traduz ele próprio para português, para expressar a fé em dias melhores: "Acredito que Deus é único".

No Xipamanine para fazer compras, Eunice Chemane diz que agora leva pouco para casa e teve de cortar no cabaz, porque o dinheiro é cada vez menos para preços cada vez mais altos.

"Diminuí frituras, porque com mil meticais [14,9 euros], comprava cebola e batata e ainda uns dois litros de óleo, mas agora um saco de 10 quilos de cebola são 600 meticais [cerca de nove euros]".

"E a agravante é que com 600 meticais, posso voltar com apenas sete quilos, devido à adulteração da balança", pelos vendedores, queixa-se.

Alberto Macucule foi obrigado a deixar, há três anos, a atividade de fotógrafo independente nas conservatórias, porque esses serviços agora tiram fotos biométricas, e passou a produzir colares e braceletes que vendem no Xipamanine, mas volta agora a enfrentar um futuro incerto.

"Quando a alimentação é cara, ninguém se interessa por cosméticos e eu dou razão às pessoas", assinala.

Para Macucule, apenas os governantes é que não compreendem as dificuldades, "porque eles têm regalias".

Sobre o custo de vida, Adelaide Chivaca não quer entrar em detalhes, mas já apanhou os culpados: O Presidente da República e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.

"Este país não é de [Filipe] Nyusi, é nosso", esbraceja Chivaca, perante as crescentes dificuldades de sobrevivência em Maputo.

Tem as contas mais apertadas e receia pelo futuro dos filhos, porque não tem dinheiro suficiente para lhes suportar os estudos.

Adelaide Chivaca deplora o que considera insensibilidade do Governo face ao sofrimento que a maioria da população moçambicana enfrenta, lamentando que o partido no poder "só se lembre do povo nas eleições".

"Os políticos vão precisar de nós nas eleições e nessa altura vamos falar", deixa o aviso.

A inflação homóloga em Moçambique desacelerou em outubro pelo segundo mês consecutivo para 11,83%, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

O ritmo de subida de preços estava a crescer desde fevereiro até atingir 12,96% em agosto, em linha com a tendência inflacionista global, fixando-se depois em 12,71% em setembro.

De setembro para outubro, a taxa de inflação homóloga recuou menos de um ponto percentual (88 pontos base), mas foi a primeira vez este ano que o Índice de Preços no Consumidor (IPC) arrefeceu por dois meses seguidos.

De acordo com os dados do INE, a inflação acumulada deste ano está agora nos 8,8%.

Leia Também: Parlamento moçambicano aprova Plano e Orçamento de Estado para 2023

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