Numa declaração, o Comité do Conselho Supremo de Beja, composto por várias tribos do leste do país, anunciou que "não reconhece o Governo de Cartum ou qualquer outra autoridade, instituição ou administração central que imponha as suas mãos sobre os recursos naturais, riqueza e liberdades" da área.
O comité defendeu, assim, que a autoridade regional tem o direito de estabelecer instituições "autónomas" para governar a área e de constituir forças militares "regulares", que se encarregarão de garantir a segurança e de assumir os poderes de uma força policial.
Na nota, o conselho exortou o "Governo do Sudão", referindo-se aos militares que controlam o país, a iniciar negociações para "chegar a um acordo".
O Conselho Supremo de Beja foi criado em 2013 para reivindicar os direitos do povo do leste do Sudão, uma área rica em petróleo e ouro e que alberga o principal porto do país, Porto Sudão, bem como o único oleoduto que serve a capital.
Os grupos tribais que compõem o conselho estão em maioria nos três estados orientais do Mar Vermelho, Kassala e Gadarife, juntamente com outras tribos aliadas, representam 10% da população do Sudão de cerca de 45 milhões de habitantes.
Os habitantes desta área consideram que foram "historicamente marginalizados", o que os levou a encabeçar numerosos protestos contra as diferentes entidades que administraram o país desde a queda do ditador Omar al-Bashir, em 2019.
O golpe de Estado liderado a 25 de outubro de 2021 pelo chefe do exército, o general Abdel Fattah al-Burhane, travou a transição democrática lançada em 2019 após a queda da ditadura.
Um ano após o golpe, nenhum observador acredita que as eleições prometidas para o verão de 2023 se realizarão e nenhuma figura política parece pronta a juntar-se ao governo civil, anunciado pelo general Abdel Fattah al-Burhane.
A tensão com Cartum aumentou após o Governo civil então no poder e os principais grupos armados do país terem assinado um acordo de paz, em Juba, em 2020, que o Conselho de Beja acredita ter marginalizado a região.
O Beja e outros grupos independentes bloquearam no ano passado o Porto Sudão durante um mês inteiro, bem como estradas que ligam a capital ao leste do país.
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