"O livre debate democrático não pode permitir tudo. Certamente não (permite) insultos, certamente não racismo, qualquer que seja o objetivo. É a negação dos valores republicanos que nos unem nesta câmara", disse Yaël Braun-Pivet, presidente da Assembleia Nacional, depois de os deputados terem aprovado a punição, o máximo previsto nas regras da câmara.
A frase "regressem a África" ou "regresse a África" (a pronúncia em francês é semelhante), considerada racista, foi proferida pelo deputado de extrema-direita na Assembleia Nacional francesa, enquanto um deputado negro questionava o governo sobre imigração ilegal.
O deputado da França Insubmissa, (LFI, esquerda radical), Carlos Martens Bilongo, de origem congolesa, evocou no hemiciclo o "drama da imigração ilegal", quando o deputado Grégoire de Fournas, lançou a frase.
Na votação, De Fournas, que nega o insulto racista dizendo que falou no plural e se referia aos barcos de migrantes ilegais, teve o apoio dos seus colegas da União Nacional (RN, na sigla em francês), o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, que considera as acusações uma manipulação feita pelos restantes grupos parlamentares.
"Sou totalmente inocente dos factos com que sou acusado. Sofro esta sanção de uma dureza sem precedentes como uma grande injustiça. Mas, respeitando a instituição, submeto-me a ela", disse o deputado através do Twitter após a votação.
Je suis totalement innocent des faits que l’on me reproche. Je ressens cette sanction d’une dureté inouïe avec une grande injustice. Mais respectueux de l’institution, je m’y soumets.
— Grégoire de Fournas (@gdefournas) November 4, 2022
Le Pen disse, em declarações à imprensa à margem do hemiciclo, que se trata de uma "condenação" de uma "ideia política" -- que os navios das ONG devem devolver os migrantes aos seus portos de origem -- e que, por isso, é um processo contrário à "liberdade de expressão".
Após a votação em que foi aprovada a suspensão, o deputado Carlos Martens Bilongo expressou o seu "alívio" por ter sido aprovada "a sanção máxima" ao deputado de extrema-direita.
Membros de outras formações e do Governo também se juntaram às críticas ao deputado que foi agora suspenso.
"Não há espaço para o racismo na democracia", disse quinta-feira a primeira-ministra, Elisabeth Borne.
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