O acordo "é um passo na direção certa, mas devem ser dados mais passos para resolver o défice de responsabilidade que caracterizou o conflito", defendeu o diretor da organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) para a África Oriental e Austral, Muleya Mwananyanda, citado numa declaração hoje divulgada pela organização.
"Todas as partes em guerra cometeram abusos flagrantes, incluindo execuções extrajudiciais em larga escala e violência sexual contra mulheres e raparigas. Estes crimes hediondos não podem ser simplesmente lavados", salientou Mwananyanda.
O acordo "não inclui um roteiro claro" sobre como assegurar a responsabilização por crimes de guerra e crimes contra a humanidade e, na opinião da Amnistia, "ignora a impunidade desenfreada no país".
Para garantir justiça às vítimas e sobreviventes de atrocidades, as autoridades etíopes "devem permitir o acesso, sem restrições, aos investigadores de direitos humanos", defendeu o diretor da AI.
O Governo etíope e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês) assinaram um acordo de paz em Pretória na quarta-feira para pôr fim às hostilidades naquela região no norte da Etiópia, na sequência de negociações iniciadas a 25 de outubro sob os auspícios da União Africana (UA).
A guerra começou em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a TPLF, no poder no estado do norte do país, em resposta a um alegado ataque a uma base militar federal, e no culminar de uma escalada das tensões políticas, iniciadas desde logo a tomada de posse de Abiy Ahmed, em abril de 2018.
Centenas de milhares de pessoas, de acordo com os Estados Unidos, morreram na guerra, que provocou a deslocação de cerca de dois milhões de pessoas, segundo as Nações Unidas.
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