Numa entrevista à agência Lusa em Lisboa, onde participou na Cimeira sobre Liderança Portugal 2022, subordinada ao tema "Agir Agora pela Sustentabilidade, Digital, Direitos Humanos e Paz", Simas defendeu que nas intercalares deste ano há uma "tendência relativamente favorável para os democratas, o que pode mitigar algumas das perdas" que os partidos no poder tradicionalmente sofrem.
"Tem sido a forma de viver nos Estados Unidos há muito tempo. Governos divididos são uma situação normal para nós. Nos últimos dois anos da presidência de [Barack] Obama [2009/2017], era um Presidente democrata, mas os republicanos controlavam tanto o Senado como a Câmara dos Representantes. O mesmo aconteceu com o Presidente [George] Bush [1989/93) nos seus dois últimos anos, e com [Ronald] Reagan [1981/89]. É uma ocorrência normal na política norte-americana. Se isso acontecer, e não sei se irá acontecer, o sistema de governação norte-americano, será o normal", sustentou Simas.
"[No caso de os republicanos vencerem as intercalares] será interessante ver, então, quais os compromissos que as duas partes assumirão, quais as concessões, porque todo o sistema está subordinado à ideia de que nada, nenhuma lei ou legislação, passa com facilidade", referiu o antigo diretor de Estratégia Política e Relações Externas da Casa Branca durante o mandato de Obama.
Questionado pela Lusa sobre se os democratas podem perder o controlo do poder, o presidente da Fundação Obama relevou que, na história das eleições intercalares dos últimos 40 a 50 anos, em geral, "quando um partido conquista a presidência nas duas câmaras do Congresso até às eleições, depois das intercalares o partido da oposição ganha sempre lugares".
"Com apenas uma exceção significativa em 2002, no rescaldo dos ataques de 11 de setembro [de 2001], em que o Presidente George W. Bush, republicano, não previu um revés histórico. A questão agora é saber se haverá alguma coisa no ambiente nos últimos três a quatro meses que altere a dinâmica nas intercalares", analisou.
Para David Simas, nascido nos Estados Unidos e filho de pai açoriano e mãe alentejana, que emigraram em 1968 para Massachusetts, para os democratas a decisão do Supremo Tribunal, em junho, de anular o direito constitucional ao aborto garantido desde início dos anos 1970, traduziu-se em "apoio, galvanização" dos seus candidatos.
Para os republicanos, disse Simas, "a inflação nos Estados Unidos, o gás, a alimentação, os combustíveis e os salários atingiram picos de há 40 ou 50 anos" e "em geral, quando isso acontece, não apenas nos Estados Unidos, os eleitores vingam-se no partido que está no poder".
"A atmosfera que reina entre esses dois elementos vai ser decisiva", explicou.
David Simas salientou ainda que o último aspeto a ter em atenção passa pelo facto de os Estados Unidos ter um sistema federal, em que um terço do Senado é renovado a cada dois anos.
"Nos estados em que haverá a votação este ano, há uma tendência relativamente favorável para os democratas, o que pode mitigar algumas das perdas [nas últimas votações]. Mas, em geral, somos um país 50/50. Dividido. O Senado está 50/50. Na Câmara dos Representantes, com 435 membros, há apenas uma maioria de cinco deputados e isso é o reflexo do que os Estados Unidos são neste momento",
Simas desdramatiza a possibilidade de uma maioria republicana nos dois órgãos de soberania, mas admite que o ex-Presidente Donald Trump poderá estar de volta nas presidenciais de novembro de 2024.
"Nas primárias do partido republicano, venceram muitos dos candidatos que apoiam ou são apoiados por Trump, que esteve muito bem nos apoios. E também é verdade que é a pessoa mais popular entre os eleitores republicanos".
"Mas o mundo mudará um milhão de vezes entre hoje e novembro de 2024. (...) Mas atualmente, a primazia de Trump é clara e relativamente indiscutível", admitiu.
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