"A imposição de sanções por parte dos Estados Unidos teve a ver, não com Cuba ser um regime democrático ou uma ditadura, mas sim com uma ditadura que se opunha aos Estados Unidos, que do ponto de vista ideológico [já que estava alinhada com a União Soviética durante a Guerra Fria] tinha nos Estados Unidos o seu maior inimigo", declarou Filipe Vasconcelos Romão, professor na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL).
Vasconcelos Romão referiu que "os Estados Unidos têm relações muito robustas, relações económicas fortes e venda de inclusivamente de armamento a outras ditaduras, como é o caso da Arábia Saudita".
O embargo económico, comercial e financeiro dos Estados Unidos a Cuba é o mais longo da História moderna e vigora há cerca de 60 anos. As Nações Unidas já pediram por varias vezes o final do bloqueio ao país.
"É evidente que estas sanções sempre contribuíram e serviram de pretexto ao regime cubano para não materializar uma abertura económica mais efetiva, como também serviram para fundamentar a ideia dos Estados Unidos como o grande inimigo do regime cubano", referiu o professor da UAL.
"A imposição de sanções acabou por fortalecer e ser um dos elementos que permitiu a manutenção do regime cubano ao longo destes anos, pois assim era possível apontar o inimigo externo para os problemas sócio-económicos da população cubana", declarou Vasconcelos Romão.
O professor da UAL referiu que foi o ex-Presidente norte-americano Barack Obama o primeiro a tentar inverter a política norte-americana em relação à Cuba.
"Esta política para ser totalmente revertida tem de passar pelo Congresso norte-americano e isso não foi possível a Obama. Mas, levou a uma abertura e materializou-se no restabelecimento das relações diplomáticas e a reabertura das embaixadas em Cuba e nos Estados Unidos", sublinhou Vasconcelos Romão.
Para o professor da UAL, a Administração [do ex-Presidente dos EUA, Donald] Trump congelou e reverteu algumas medidas, mas curiosamente não encerrou a embaixada norte-americana e não voltou à situação prévia a Obama. Agora, com o atual Presidente Joe Biden, já há algumas movimentações de reaproximação.
Por outro lado, o investigador Pedro Ponte e Sousa, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, declarou que para os EUA as sanções fazem sentido como medida 'forte' de condenação às prisões, e de condenação política da organização política cubana. Todavia, não é esse o objetivo das sanções económicas, ou do embargo. O objetivo não é punir o outro, mas antes facilitar a mudança política".
"O problema, que conhecemos no caso de Cuba, mas em muitos outros, é que as sanções económicas funcionam do ponto de vista económico, penalizam profundamente a vida dos cidadãos comuns, mas não funcionam do ponto de vista político", sublinhou Ponte e Sousa.
Para Pedro Neto, diretor excutivo da Amnistia Internacional (AI) Portugal, "as sanções têm justificação em determinados contextos e apontadas a determinadas pessoas e instituições".
"O problema das sanções é que, por vezes, prejudicam aqueles que menos têm, aqueles que mais sofrem e os mais pobres. No caso de Cuba, as sanções já são duradouras, há muitos anos e quem sofre mais é o povo com maiores necessidades (...) quando existem (sanções), são uma forma de combater os abusos contra os direitos humanos", declarou Neto.
"Entretanto, tem de se implementar [as sanções] com um caráter discriminatório, que atinja apenas aqueles que são abusadores dos direitos humanos e não todo o povo que está inocente. Em Cuba, as sanções podem justificar alguns dos problemas, mas nunca todos. Nós estamos a ver por parte do Governo é que continua a responsabilizar as sanções por todos os males de Cuba e eximirem-se das suas responsabilidades e este é um problema grande", observou Pedro Neto.
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