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Pressão sobre Xinjiang pode condicionar política externa chinesa

O professor da Nova School of Law Felipe Pathé Duarte afirmou hoje acreditar que a política externa chinesa poderá ser condicionada pela crescente pressão da comunidade internacional sobre os possíveis crimes contra a minoria muçulmana uigur. 

Pressão sobre Xinjiang pode condicionar política externa chinesa
Notícias ao Minuto

18:55 - 28/09/22 por Lusa

Mundo Analista

necessário compreendermos e analisarmos a situação de Xinjiang como um todo. [...] A crescente atenção internacional sobre esta situação poderá condicionar a política externa chinesa, que planeava continuar a sua ação nas sombras da agenda mediática internacional", afirmou o também analista político num debate realizado hoje na Nova School of Law, em Lisboa, no quadro do mestrado em "Direito e Segurança". 

Segundo o docente, as violações dos direitos humanos contra os muçulmanos uigur -- como as detenções extrajudiciais, tortura e trabalhos forçados e ainda com o crescimento dos designados "campos de reeducação" -- "têm desígnios económicos", nomeadamente relacionados com a Inciativa Faixa e Rota, tendo em conta que Xinjiang é um dos principais centros logísticos para acesso e controlo da Ásia Central, e com a extração de recursos naturais na região. 

"Para além da agenda económica chinesa, os projetos em curso em Xinjiang parecem ser o protótipo de futuras iniciativas do regime chinês em termos de expansão do estado de vigilância, autoridade e controlo, particularmente no âmbito da tecnologia", sublinhou Pathé Duarte.

"A situação em Xinjiang também tem implicações importantes na perceção internacional da propaganda chinesa, algo que [o Presidente chinês] Xi Jinping tanto valoriza", acrescentou.

A China tem sido acusada de concentrar minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em campos de doutrinação e reeducação no extremo noroeste do território chinês, com denúncias ocidentais a apontarem para cerca de um milhão de muçulmanos.

Pequim tem rejeitado um alegado plano de "genocídio cultural" de minorias muçulmanas na China, alegando que estas instalações são centros de formação profissional, destinadas a ajudar a população a encontrar trabalho e a mantê-la afastada do extremismo e do terrorismo.

A região de Xinjiang, um vasto território semidesértico no noroeste da China, tem sido cenário de ataques violentos, que Pequim atribui a elementos separatistas e islamitas.

Os uigures, que são maioritariamente muçulmanos e falam na sua grande maioria uma língua relacionada com o turco, são um dos 56 grupos étnicos que existem no território chinês. Esta etnia representa um pouco menos de metade dos 25 milhões de pessoas que vivem na região de Xinjiang.

Em 2019, segundo Pathé Duarte, 22 Estados emitiram uma declaração conjunta ao Conselho de Direitos Humanos sobre esta perseguição, número que, atualmente, defendeu, é superior.

"Isto causa muitos problemas e poderá trazer mudanças na política externa chinesa, que olhará para a Ásia Central, Médio Oriente e África -- regiões onde uma franja significativa dos Estados têm registos questionáveis em relação aos Direitos Humanos e/ou recebem importantes financiamentos do Governo chinês - como elos ainda mais preponderantes na defesa da influência chinesa no mundo", afirmou Pathé Duarte.

"O objetivo passa pela criação de um bloco alternativo, distanciado da influência política ocidental, pautado pela erosão das normas preconcebidas de direitos humanos", concluiu.

Em fins de agosto passado, o relatório da ONU sobre Xinjiang apontou possíveis "crimes contra a humanidade" e mencionou "provas credíveis de tortura e violência sexual" contra a minoria uigur, pedindo a intervenção da comunidade internacional.

"A extensão da detenção arbitrária e discriminatória de membros dos uigures e de outros grupos predominantemente muçulmanos [...] pode constituir crimes internacionais, em particular crimes contra a humanidade", refere-se no relatório, cujas conclusões são veementemente rejeitadas por Pequim.

O documento, que não parece conter revelações importantes em relação ao que já se sabia sobre a situação em Xinjiang, traz o selo da ONU às acusações feitas há muito tempo contra as autoridades chinesas.

A publicação do relatório foi alvo de intensa pressão particularmente pelos Estados Unidos e pelas principais organizações não-governamentais (ONG) de direitos humanos. Inversamente, Pequim não queria que fosse divulgado, sobretudo por considerá-lo uma "farsa" orquestrada pelo Ocidente, com Washington na liderança.

Leia Também: EUA dizem que relatório da ONU sobre Xinjiang reforça "grave preocupação"

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