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Portugueses tranquilos com eleições em que importante é saber ganhar e perder

Tranquilos e expectantes, os portugueses em Angola vivem o período eleitoral com entusiasmo, notando vontade de mudança, mas sublinham que o mais importante é esperar pelos resultados e saber ganhar e perder.

Portugueses tranquilos com eleições em que importante é saber ganhar e perder
Notícias ao Minuto

06:20 - 15/08/22 por Lusa

Mundo Angola

Para a comunidade portuguesa em Angola -- cerca de 115 mil cidadãos, na esmagadora maioria com dupla nacionalidade -- esta é também uma época de férias que muitos aproveitam para se juntar à família.

Coincidindo com o calendário eleitoral, entre campanha, anúncio dos resultados e constituição de um novo governo, vivem-se entre julho e setembro, três meses de abrandamento dos negócios e da atividade comercial pelo que por esta altura são muito menos os expatriados que se veem em Luanda.

Álvaro Mendonça, gestor ligado à área comercial de uma construtora portuguesa, é um dos ficou por cá e vai acompanhar, pela primeira vez, um ato eleitoral em Angola, país em que vive há quatro anos, mostrando-se animado com o ambiente festivo que dá cor ao cacimbo cinzento da capital angolana.

Os angolanos vão a votos no dia 24 de agosto para escolher o seu novo Presidente da República e deputados à Assembleia Nacional, no quinto ato eleitoral da história, cuja vitória tem pertencido sempre ao MPLA, partido que governa o país desde a independência em 1975.

O ambiente eleitoral na capital angolana é "calmo" e marcado por uma campanha "muito mais festiva" do que a que se vê normalmente por altura das eleições em Portugal, diz Alvaro Mendonça à Lusa.

"A cidade de Luanda está cheia de bandeiras, o que torna a cidade muito bonita, muito colorida. As manifestações e comícios tem cânticos, o povo angolano é muito alegre e isso é muito bonito de ver", descreve.

Elogia ainda o interesse dos angolanos pela política, que discutem "temas relevantes como a saúde", a educação, e assume que está também a acompanhar o assunto.

"Talvez pelo que dizem ser as eleições mais renhidas de sempre há um enorme interesse em seguir o resultado", acrescenta, sem arriscar previsões quanto ao que acontecerá nos dias a seguir às eleições.

"Há saber ganhar e saber perder e o que eu espero, e tenho esperança, é que quem ganha, saiba ganhar e quem perca saiba perder", frisou.

Maria Rita Arnaut, consultora na área das indústrias criativas, vive também o período eleitoral com entusiasmo, sentimento que partilha com os seus amigos angolanos.

"Claro que é um tema de conversa, claro que falamos todos sobre isso, claro que se sente na rua. Vemos agitação nas várias frentes políticas, sentimos que será um momento muito importante para o país", afirmou em declarações à Lusa.

Considera que este "é um momento muito desejado, de transição, de mudança", independentemente de quem venha  ganhar as eleições.

"O país precisa muito dessa mudança, precisa de políticas sociais, precisa de uma transformação para que consiga progredir a todos os níveis. É um momento de esperança, que seja de facto uma viragem para o país", realça a consultora.

Maria Rita vem a Angola desde 2014 e há dois anos optou por mudar-se para Luanda, sendo estas as primeiras eleições que vai testemunhar.

"Para mim é um privilégio poder testemunhar um momento tão importante como este, no país onde estou e que me acolheu tão bem", sublinha, acrescentando que há diferentes perceções e atitudes, havendo pessoas que querem sair do país e outras que optam por ficar para as eleições, "tanto entre portugueses, como entre angolanos".

Os portugueses contactados pela Lusa desvalorizam possíveis tensões e notam que é normal que se vejam nesta altura em Luanda muito menos estrangeiros, sendo agosto um período em que muitos expatriados, portugueses e não só, aproveitam para voltar aos seus países de origem.

"Este é o período em que nós, vamos gozar o frio das praias portuguesas, mas admito que algumas pessoas mais receosas, mais nervosas possam adiar o seu regresso para depois de 24 de agosto, por receio do que possa acontecer", diz Álvaro Mendonça, que parte de férias nesse mesmo dia "por que era a tarifa mais barata".

No dia 24 de agosto, José Carlos Silva, quer aproveitar para "almoçar fora e dar uma volta na ilha", uma vez que antecipa que o ato seja calmo.

O informático de 52 anos, com família angolana, encontra-se em Angola "em turismo", mas conhece bem  o país, onde chegou, pela primeira vez, em 2008.

"Vinha por 30 dias e fiquei 12 anos, adorei o país e as oportunidades de trabalho eram muito melhores", contou à Lusa, explicando que o objetivo deste seu regresso é voltar a trabalhar em Angola

Afirma que encontrou uma Angola melhor do que aquela que deixou em 2019, apesar de "alguns problemas na economia", e sente Luanda como uma cidade "muito mais segura e acolhedora".

"Não noto qualquer tensão, existem muitos comícios, que são principalmente festa. Acredito que as eleições vão correr de forma absolutamente normal e que vai ser tudo muito tranquilo", como aconteceu nas anteriores eleições, em 2012 e 2017, dias "pacíficos" que viveu com normalidade.

"No dia seguinte, há sempre umas pessoas mais agradadas e outras mais desagradadas, mas não me parece que vá acontecer algo com que tenhamos de nos preocupar", resume.

Também José Rosete, 51 anos e empresário na área da restauração, se mostra otimista.

Está em Luanda desde 2009, à frente da "Casa do Benfica", e salienta que "os processos tem vindo a consolidar-se" com as campanhas a dar "mais voz" e "tempo de antena" aos diferentes atores políticos.

Espera, por isso, que este seja, tanto a nível interno como para a comunidade internacional, "um ato tranquilo, onde se respeitem as regras".

"Penso que as coisas irão correr com toda a naturalidade", já que "estão reunidas as condições para que haja um ato dentro dos parâmetros normais e do esforço que tem sido feito e é notório", adiantou, descartando receios entre os expatriados

Para Álvaro Mendonça, depois da intervenção bem sucedida do Fundo Monetário Internacional e da subida do petróleo nos últimos meses, "tudo está a ajudar" Angola.

"Não temos receio nos negócios a médio e longo prazo, Angola é um país perfeitamente integrado na comunidade, com uma economia aberta", diz.

Caso a votação dite uma mudança de regime -- o MPLA enfrenta este ano uma UNITA pujante que aposta forte na transição, apoiada numa lista diversificada de candidatos pertencentes a outras forças da oposição -- "há que esperar para ver".

"Pelo que vou lendo, há um sentimento de mudança, sobretudo nas camadas mais jovens, mas vamos esperar para ver o resultado. Nem sempre a mudança ocorre no tempo e à velocidade que as pessoas gostam e as pessoas que querem mudança normalmente gritam mais alto do que as que não querem, por isso, vamos esperar serenamente", aconselha.

Leia Também: Angola encerra último ano parlamentar da IV legislatura na segunda-feira

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