Um grupo de analistas do 'think tank' European Council on Foreign Relations (ECFR) olha para a crise política em Itália como uma ameaça ao clima de estabilidade económica e social que Draghi conseguiu estabelecer numa das maiores economias da Europa, denunciando a incógnita que constitui a próxima solução governativa.
O Presidente italiano, Sergio Mattarella, dissolveu esta semana o Parlamento e convocou eleições antecipadas para final de setembro, depois de Draghi ter apresentado a sua demissão, por falta de confiança política dentro do seu Governo de unidade nacional, que incluía partidos desde a extrema-direita à esquerda.
Para Arturo Varvelli, chefe do escritório de Roma do ECFR, Draghi "desempenhou um papel importante na definição das sanções europeias contra a Rússia, bem como na política energética italiana e europeia".
Com este posicionamento, de acordo com o analista, o primeiro-ministro italiano "transformou a ambição histórica de Roma de contar tanto como Paris e Berlim na política europeia", ao mesmo tempo que "tranquilizava os Estados Unidos, afastando as longas sombras russa e chinesa sobre anteriores governos".
Também Lorena Stella Martini, outra analista do escritório de Roma do ECFR, sublinha o papel de Draghi na "melhoria da reputação internacional da Itália", lembrando as iniciativas relevantes que desenvolveu na área energética, no momento em que a Europa procura soluções para os problemas colocados pela excessiva dependência do gás e petróleo russos.
A investigadora lembra que, ainda esta semana, em plena crise política no seu país, Draghi deslocou-se à Argélia, para procurar intensificar o abastecimento energético a partir do norte de África como alternativa ao fornecimento russo, num gesto elogiado por vários líderes europeus.
Contudo, estes dois analistas concordam também com a perspetiva de Teresa Coratella, gestora de projetos do ECFR em Roma, que defende que este prestígio interno e externo de Draghi esbarrou contra a instabilidade dentro do seu próprio Governo, em particular vinda dos partidos da extrema-direita, como o Movimento Cinco Estrelas (M5S), o Forza Italia e a Liga.
"Draghi sabia desde o início que não podia confiar a 100 por cento nos membros da sua coligação governamental. (...) E isso representava uma séria ameaça à sua política externa em relação à Rússia", explica Coratella, referindo-se ao facto de o M5S ser visto como uma força política pró-russa.
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