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Covid-19. Pandemia fez recuar o mundo no caminho da igualdade de género

A diretora da organização Women in Global Health alertou que a pandemia fez recuar o mundo no caminho da igualdade de género e sublinhou que a humanidade pode levar "mais de um século a alcançar uma sociedade igualitária".

Covid-19. Pandemia fez recuar o mundo no caminho da igualdade de género
Notícias ao Minuto

08:05 - 23/06/22 por Lusa

Mundo Covid-19

"Se não fizermos nada, vai levar mais do que um século até conseguirmos alcançar uma sociedade igualitária em género e o preço é muito elevado. A covid-19 atrasou-nos em muito do progresso que tinha sido feito. Depende de nós abordar estas questões", disse Magda Robalo Silva numa sessão da Conferência Novafrica 2022 sobre Desenvolvimento Económico, que termina hoje na Nova School of Business & Economics, em Carcavelos, concelho de Cascais.

Em declarações à Lusa à margem da conferência, a ex-ministra da Saúde da Guiné-Bissau citou dados segundo os quais, se a desigualdade de género não for abordada "com políticas que levem à redução da diferença entre os géneros em matéria de liderança, em matéria de rendimento, em várias áreas, mesmo de educação", vai demorar mais de um século para que a sociedade seja mais equilibrada, com "consequências para o desenvolvimento dos povos".

A responsável, que foi alta-comissária para a luta contra a covid-19 na Guiné-Bissau, explicou que a pandemia fez "perder ganhos que já estavam adquiridos" em matéria de igualdade de género: Muitas meninas deixaram de ir à escola e provavelmente já não voltam, muitos programas essenciais na área da saúde maternoinfantil sofreram recuos porque o foco estava no coronavírus e o impacto da covid-19 no crescimento económico dos países terá impacto no investimento que os Governos podem fazer em setores como a educação e a saúde, exemplificou.

Na sua intervenção, a guineense lembrou que o setor da saúde é um dos maiores empregadores em todo o mundo e que 70% dos profissionais de saúde são mulheres, mas quando se sobe na cadeia hierárquica das unidades de saúde as mulheres tornam-se mais escassas e nas posições de liderança são menos de um terço.

Recordou que as mulheres são a maioria dos estudantes que entram nas faculdades de medicina, mas depois a hierarquia afunila-se e depois entre os líderes dos grandes hospitais ou entre os decanos de faculdades de medicina as mulheres praticamente desaparecem.

Magda Robalo Silva lembrou que a desigualdade prejudica o desenvolvimento económico e social dos povos, pelo que "é preciso que os países definam políticas e, mais do que definir políticas, que implementem as políticas que façam com que as mulheres possam aceder a posições de decisão", que permitam que terminem as suas formações e possam trabalhar em domínios que ainda são dominados pelos homens, como as ciências, tecnologias, engenharias ou matemáticas.

"Precisamos de reduzir a diferença de rendimentos entre homem e mulher, que ainda é de 28%, mesmo para mulheres e homens que têm o mesmo papel e que trabalham o mesmo número de horas", sublinhou.

Sobre a especificidade da desigualdade em África, a guineense disse que as mulheres africanas têm um papel muito importante porque o continente ainda tem "enormes tradições e padrões culturais muito fortes que fazem com que a mulher seja relegada para segundo ou terceiro plano".

Mas introduziu também a questão da inclusão e da diversidade, sublinhando que, a par da igualdade de género, "é preciso que o mundo também funcione como um espaço diverso, onde grupos étnicos de raças diferentes, de pessoas que vêm de geografias diferentes possam também participar na tomada de decisão a nível mundial".

"Eu, enquanto africana, gostaria que África pudesse participar nas tomadas de decisão sobre assuntos que nos dizem respeito, mas essa representatividade também ainda não se vê", afirmou, referindo-se à ausência de países africanos entre os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas -- onde é preciso "quebrar essa hegemonia que foi estabelecida desde a Segunda Guerra Mundial e que já não representa aquilo que o mundo é hoje", mas não só.

"Também estou a falar das instituições de saúde globais, que, por exemplo, são dominadas por representantes de países de alta renda", afirmou.

Admitindo que algumas organizações, como a Organização Mundial de Saúde ou a Organização Mundial do Comércio serem lideradas por africanos, Magda Robalo Silca disse que "isso não é suficiente", porque, apesar de "simbolicamente estas pessoas de origem africana ou de outros países menos desenvolvidos" a liderarem essas instituições, a grande maioria dos dirigentes que tomam as decisões "continuam a ser pessoas de origem dos países mais desenvolvidos".

"Precisamos que o mundo é, seja um espaço com melhor equilíbrio, maior representatividade de todos os cidadãos que nele residem", apelou.

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