"É necessário um acordo União Europeia--Reino Unido, não pode ser um simples acordo de readmissão de migrantes em território francês", declarou Gérald Darmanin à imprensa, indicando que o primeiro-ministro francês, Jean Castex, vai escrever na terça-feira ao seu homólogo britânico, Boris Johnson, para lhe propor um acordo.
O responsável assegurou que "não serão postos em causa" os acordos de Touquet sobre a fronteira franco-britânica. Em vigor desde 2004, estes acordos fixam a fronteira britânica em Calais e permitem ao Reino Unido controlar a fronteira em parceria com França.
Este anúncio surge alguns dias após a pior tragédia ocorrida no canal da Mancha, na passada quarta-feira, em que pelo menos 27 migrantes que tentavam chegar à Grã-Bretanha morreram no naufrágio da embarcação em que seguiam.
Reunidos no domingo em Calais, no norte de França, a convite de Paris, os participantes numa reunião de emergência europeia acordaram "aumentar a cooperação conjunta com o Reino Unido" sobre o tráfico migratório.
Participaram no encontro os ministros ou responsáveis encarregados da imigração francês, alemão, neerlandês e belga, a comissária europeia para os Assuntos Internos e os diretores das agências europeias de polícia criminal Europol e das fronteiras Frontex, mas os britânicos estiveram ausentes, devido a tensões persistentes entre Londres e Paris.
Numa declaração conjunta, os participantes "reafirmaram o seu compromisso de tudo fazer para combater mais eficazmente as redes criminais de traficantes"
O ministro do Interior francês anunciou ainda que a agência europeia das fronteiras Frontex vai destacar a partir de quarta-feira um avião para "dia e noite, ajudar as polícias francesa, neerlandesa e belga" a vigiar o litoral.
A bordo de embarcações precárias, migrantes tentam agora quase diariamente alcançar a costa inglesa, um fenómeno que, segundo Gérald Darmanin, assumiu proporções inéditas desde o 'Brexit' (saída do Reino Unido da União Europeia).
O problema das travessias do canal da Mancha, regularmente no centro de tensões bilaterais, é delicado para o Governo conservador britânico, que fez da luta contra a imigração o seu cavalo de batalha na sequência do 'Brexit' e vê a costa sul de Inglaterra há meses confrontada com a chegada maciça de migrantes.
O diferendo entre Paris e Londres subiu ainda mais de tom na semana passada, após a retirada pela França do convite para a participação britânica na reunião de crise sobre os migrantes -- uma retaliação ao facto de Boris Johnson ter divulgado nas redes sociais uma carta dirigida ao Presidente francês, pedindo-lhe que recebesse de volta os imigrantes que chegam ao Reino Unido.
A 20 de novembro, 31.500 migrantes tinham partido da costa francesa desde o início deste ano, e 7.800 foram salvos.
Antes do naufrágio de quarta-feira, o balanço de vítimas mortais desde janeiro era três mortos e quatro desaparecidos.