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Mulheres violadas na Etiópia sem acesso a cuidados médicos

A ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou hoje que o "cerco efetivo" do Governo da Etiópia à região etíope do Tigray está a impedir o acesso a cuidados médicos por parte das mulheres violadas durante este ano de guerra.

Mulheres violadas na Etiópia sem acesso a cuidados médicos
Notícias ao Minuto

10:52 - 10/11/21 por Lusa

Mundo Etiópia

Num relatório divulgado hoje, coincidente com uma investigação da Amnistia Internacional, que descobriu que combatentes do Tigray violaram, espancaram e roubaram mulheres, em agosto, em Amhara, uma região agora também afetada pelo conflito entre rebeldes e forças governamentais.

Com base nos testemunhos de vítimas, com idades entre os seis e os 80 anos, a HRW acusa as duas partes do conflito da prática de violência sexual generalizada e de visar deliberadamente as instalações médicas.

"O cerco efetivo do governo ao Tigray, desde junho, penaliza duplamente as vítimas", negando-lhes o acesso a cuidados médicos e psicológicos cruciais, escreveu a ONG num comunicado.

O relatório diz que as vítimas de violação precisam de tratamento para doenças sexualmente transmissíveis, transtorno de stress pós-traumático e cuidados para reparar ossos partidos.

"Um ano após o início do conflito devastador em Tigray, as vítimas de violência sexual - desde a violação em grupo à escravatura sexual - precisam desesperadamente de cuidados e apoio", disse Nisha Varia, diretora dos direitos das mulheres da HRW.

"As mulheres e raparigas do Tigray não são apenas sujeitas a abusos horríveis, mas também enfrentam uma falta de alimentos e de medicamentos.

O conflito, que já deixou milhares de mortos e mais de dois milhões de pessoas deslocadas, tem originado vários relatos de abusos contra civis por combatentes de ambos os lados.

A guerra começou a 04 de novembro de 2020, quando o Primeiro-Ministro, Abiy Ahmed, enviou o exército para Tigray com o objetivo de retirar do poder as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (FPLT), que acusou de ter atacado bases militares.

O primeiro-ministro e Prémio Nobel da Paz de 2019 declarou a vitória três semanas mais tarde. Mas os combatentes da FPLT reconquistaram a maior parte da região do Tigray em junho, e depois avançaram para as regiões vizinhas de Afar e Amhara.

A Amnistia Internacional recolheu testemunhos de 16 mulheres, que dizem ter sido abusadas pelos rebeldes da FPLT ao passarem por Nifas Mewcha, em Amhara, entre 12 e 21 de agosto.

Os "atos desprezíveis" identificados pela ONG "constituem crimes de guerra e potencialmente crimes contra a humanidade", disse a Secretária-Geral da Amnistia, Agnès Callamard.

Das 16 mulheres, que também descreveram os roubos, 14 disseram ter sido vítimas de violação em grupo. Entre estas, Gebeyanesh, de 30 anos, que disse ter sido violada à frente dos seus filhos de 9 e 10 anos de idade.

"Três deles violaram-me enquanto os meus filhos choravam (...) [Os rebeldes] fizeram o que queriam e partiram. Eles também me agrediram fisicamente", diz esta vendedora de alimentos.

Hamelmal dá o seu testemunho sobre a sua violação por quatro combatentes da FPLT. "Aquele que me violou primeiro foi um superior. Ele disse: 'Os Amhara são burros, os Amhara massacraram o nosso povo, as forças de defesa federal violaram a minha mulher, agora podemos violar-vos como quisermos'" relatou.

As autoridades da região de Amhara dizem que 71 mulheres foram violadas durante este período. O Ministério da Justiça etíope deu conta de 73 casos.

A FPLT diz ter tomado cidades chave em Amhara e avançou para cerca de 300 quilómetros de Adis Abeba, embora não esteja a excluir uma marcha sobre a capital.

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