"Nunca recebi uma 'quinhenta', sequer, para benefício próprio nem direta nem indiretamente", afirmou António Carlos do Rosário, quando interrogado pelo Ministério Público.
O antigo diretor da Inteligência Económica do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE) e que era também diretor das três empresas beneficiárias do dinheiro do caso das dívidas ocultas é acusado de ter recebido subornos no valor de 8,9 milhões de dólares (7,6 milhões de euros) pelo seu papel no projeto de proteção da Zona Económica Exclusiva e criação das companhias.
A justiça considera que as empresas e a Zona Económica Exclusiva foram usadas como ardil para a mobilização dos empréstimos.
"Tenho certeza que não existe nada nos autos que indique que eu tenha recebido isso [subornos]", enfatizou.
Questionado sobre a origem de um Ferrari e um Mercedes na sua posse e alegadamente comprados com o dinheiro das dívidas ocultas, negou ter esses carros.
"Ferrari? Se me quiserem dar um, eu aceito", respondeu.
O antigo diretor da Inteligência Económica do SISE também negou ser dono de um hotel construído num terreno seu na cidade de Tete, centro de Moçambique, alegando que a unidade pertence à empresa Txopela, que tem sede em Beirute.
O Ministério Público considera que a Txopela - uma palavra que nas línguas do sul de Moçambique significa "pendura-te" -- é propriedade de António Carlos do Rosário, mas o arguido rejeita essa imputação, alegando que a mesma pertence ao grupo Privinvest.
O arguido considerou "martelados", ou seja, falsos, mensagens de correio eletrónico em que se discutem pormenores sobre as obras do hotel, que o Ministério Público considera serem provas de que o estabelecimento pertence ao oficial do SISE.
Rosário também negou ter trocado correspondência, em 2015, com Ndambi Guebuza, arguido e filho do antigo Presidente da República Armando Guebuza, sobre questões operacionais da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), uma das três beneficiárias das chamadas dívidas ocultas.
"Eu não precisava que o co-réu Ndambi tratasse dos meus assuntos, numa altura em que o pai já não era Presidente da República", declarou.
O antigo dirigente do SISE afirmou que não conhecia pessoalmente o filho mais velho de Armando Guebuza, tendo-o visto de perto, pela primeira vez, na prisão, onde os arguidos das dívidas ocultas estão preventivamente detidos.
A justiça moçambicana acusa os 19 arguidos do processo principal das dívidas ocultas de se terem associado em "quadrilha" e delapidado o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pela procuradoria e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.
As dívidas ocultas foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.
Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frelimo, liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.
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