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França. Abstenção incomum nas regionais e presidente sozinho para 2022

A falta de campanha e desconfiança crescente nas forças políticas levaram a uma abstenção recorde nas eleições regionais de domingo em França, com um Presidente "isolado" face às presidenciais e Marine Le Pen mais enfraquecida do que se pensava.

França. Abstenção incomum nas regionais e presidente sozinho para 2022
Notícias ao Minuto

11:32 - 23/06/21 por Lusa

Mundo França

A abstenção de 66,74% do eleitorado francês na primeira volta das eleições regionais de domingo foi "pouco comum", disse à agência Lusa Vítor Pereira, professor de História Contemporânea na Universidade de Pau, mas não uma completa surpresa.

"Há também muita desconfiança", disse o académico.

Esta desconfiança acabou por premiar quem já estava no cargo e se recandidatou, especialmente líderes da direita tradicional como Valérie Pécresse, em Île-de-France, ou Xavier Bertrand, em Hauts-de-Seine.

Este reforço na direita veio mexer nas contas de Marine Le Pen, que esperava, segundo o investigador, fazer das regionais "uma primeira volta das eleições presidenciais", o que acabou por falhar, já que, na segunda volta apenas a região Provença-Alpes-Costa Azul (PACA) parece ainda possível.

"Muitos pensavam que a direita tradicional ia morrer, portanto tanto a União Nacional [RN, na sigla em francês e partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen] como o Republica Em Marcha [REM, partido centrista do Presidente Emmanuel Macron] estavam a tentar entrar nesse eleitorado e afinal não é tanto assim", explicou.

No entanto, e já pensando nas eleições presidenciais, a política francesa continua muito fraturada, com uma organização difícil de reconstruir para as forças tradicionais após a eleição da Emmanuel Macron em 2017.

"Falta organização aos partidos tradicionais e falta também uma linha ideológica, há muitas fraturas por exemplo, no seio do partido Os Republicanos [centro-direita]. Eu percebo que no primeiro ano após 2017 houvesse desorganização nos partidos porque realmente era algo novo, mas agora já não há justificação", declarou também à Lusa Virginie Martin, politóloga.

Mas na maioria as coisas também não vão bem. Nem a mais forte aposta do Presidente, uma lista com cinco ministros em Hauts-de-Seine deu frutos, a nem sequer se conseguir qualificar para a segunda volta, que se disputa no próximo domingo, dia 27.

Após quatro anos de vida, o partido do Presidente, o REM, não tem implantação territorial.

"O que se verifica nestas regionais é que o Presidente não tem partido. Tanto o seu partido como os seus ministros não têm peso político nenhum. Nas municipais não ganharam quase nada, nas regionais nada mesmo, embora eles esperassem criar uma força política que vivesse para além do Governo", considerou Vítor Pereira.

Com ou sem partido, Emmanuel Macron parece lançado para um segundo mandato, continuando as deslocações um pouco por toda a França, embora o anúncio formal ainda não tenha sido feito, o que deixa algumas dúvidas aos analistas.

"O balanço do seu mandato é estranho, é magro, mas caso ele não se candidate não tem nada a ver com o seu mandato anterior, mas sim com o seu destino como homem político", garantiu Virginie Martin, que pensa que devido à sua juventude, Emmanuel Macron pode ter aspirações internacionais.

Para Vítor Pereira, o Presidente deverá candidatar-se com uma grade probabilidade de ganhar.

"Acho que ele se vai candidatar com possibilidade de ganhar, mas Macron vai estar sozinho e acho que ele está habituado. Ele governa com uma grande personalização do poder", descreveu.

O formato da governação é que pode mudar, já que ao contrário do que se passou em 2017 em que o Presidente ganhou as eleições presidenciais e o seu partido ganhou as eleições legislativas que se realizaram logo a seguir, em 2022 isso pode não acontecer.

"Em França, até agora, na V República deu-se sempre a oportunidade ao Presidente de fazer a política para o qual foi eleito, elegendo sempre o partido que o apoiou nas legislativas. Mas pode ser que ele fique com uma assembleia. Talvez isso seja a melhor forma de obrigar o sistema político a mudar radicalmente", concluiu Vítor Pereira.

A segunda volta das regionais vai acontecer já este domingo, com duelos intensos entre a direita e a esquerda na região de Île-de-France e um combate intenso entre a extrema-direita e a uma frente republicana entre direita, esquerda e Os Verdes.

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