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China atravessa novo ciclo de sino-fobia que "é indispensável avaliar"

O presidente da Fundação Oriente disse hoje que a China está a iniciar num novo ciclo de 'sinofobia' a nível europeu e internacional e defendeu que no atual contexto "é indispensável" avaliar a evolução de Hong Kong e de Macau.

China atravessa novo ciclo de sino-fobia que "é indispensável avaliar"
Notícias ao Minuto

21:53 - 22/04/21 por Lusa

Mundo China

"E indispensável avaliar a evolução de Hong Kong e de Macau, no momento presente", afirmou Carlos Monjardino na sua intervenção na videoconferência que se realizou hoje à tarde com o tema "China/Macau: Um país, dois sistemas", organizada pelo Instituto do Oriente.

Para o Presidente da Fundação Oriente, o último ano, dominado pela pandemia de covid-19, "assinala uma viragem radical da imagem da China no conjunto dos Estados europeus, incluindo de Portugal".

"A origem da epidemia, a relação da China como uma grande potência, a demonstração de poder e repressão em Hong Kong conjugaram-se para mudar a opinião pública europeia. E uma maioria significativa passou a ter uma perceção negativa da China, vista agora como um fator de instabilidade internacional", sublinhou.

Por último, as sondagens de opinião demonstram isso mesmo e "marcam o fim de um ciclo longo de 'sinofilia" e com toda a probabilidade o início de um ciclo longo de 'sinofobia' na política europeia", sublinhou.

Essa alternância, porém, de ciclos face à China é "clássica na história europeia", considerou, adiantando a que a sua própria geração conheceu "um período intenso de sinofobia", que precedeu um ciclo de 'sinofilia' exuberante desde o fim do século passado.

Porém, para os gestor da Fundação Oriente, esses ciclos "não têm de mudar a natureza dos interesses nacionais", mas "determinam as condições políticas em que podem evoluir as relações internacionais, nomeadamente com a China, que todos reconhecem ser um fator estratégico decisivo à escala global".

Quanto, às questões de Macau e Hong Kong defendeu que "são inseparáveis da alternância dos ciclos", lembrando que a declaração conjunta sino britânica sobre Hong Kong, em 1984, tal como a declaração conjunta sino portuguesa sobre Macau, em 1987, só foram possíveis "num quadro de abertura externa e de reforma interna da República Popular da China".

Assim, sublinhando a importância de Portugal manter as suas relações diplomáticas com a China e o empenho em relação a Macau, Carlos Monjardino considerou ser "indispensável avaliar a evolução de Hong Kong e de Macau no momento presente".

"Durante vinte anos o princípio um país dois sistemas pôde gerar, no essencial, um quadro de autonomia política e institucional das duas Regiões Administrativas Especiais", mas as "circunstâncias externas mudaram significativamente (...) nesse período, desde logo mudou a balança entre Hong Kong e Macau".

Por outro lado, "mudou a importância única de Hong Kong para a integração internacional da economia chinesa, designadamente com o desenvolvimento de Xangai como um centro financeiro alternativo".

Por último, "mudou o estatuto internacional da China e essa mudança condiciona a política de unificação pacífica com Taiwan", enumerou o responsável da Fundação Oriente.

Assim, "em termos formais a República popular da China continua a defender o princípio um país dois sistemas, que devem por a Pequim o respeito pela autonomia de Hong Kong e de Macua e deixar a porta aberta à unificação com Taiwan".

Mas, sublinhou: "a interpretação oficial chinesa" sobre esse mesmo princípio "é hoje certamente diferente da interpretação que é feita pela oposição democrática de Hong Kong e do princípio defendido pelas duas partes. Tanto mais que este é invocado para limitar os direitos políticos da antiga colónia britânica", sublinhou Carlos Monjardino.

Além disso, as autoridades de Taiwan anunciaram a sua solidariedade política com a oposição democrática em Hong Kong e, nesse sentido, recusam qualquer paço significativo com vista à unificação com a República Popular da China, recordou.

"Esse impasse é intolerável para uma grande potência e a China não exclui a possibilidade de recorrer à força para forçar a unificação com a Taiwan", frisou.

Por isso, para Carlos Monjardino não há grandes dúvidas que a questão de Taiwan está no centro da escalada de tensões entre a República Popular da China e os Estados Unidos, continuando este último país "duplamente vinculado" à defesa daquele território, Portanto, está também no centro "do pior dos cenários de conflito internacional que opõe Washigton e Pequim, as duas maiores potências marítimas que são também ambas potências nucleares".

Assim, defendeu que este contexto estratégico "não pode ser ignorado na análise e evolução do princípio um país dois sistemas, que foi sempre apresentado como uma forma de transição".

Além disso, sublinhou que tanto a declaração sino-portuguesa como a sino britânica "indicam um prazo de 50 anos para a transição, findo o qual as regiões administrativas especiais deixam de existir e se completa a integração de Hong Kong e de Macua na República Popular da China".

"No novo ciclo de 'sinofobia' a China volta a ser representada como um império cuja expansão pode ameaçar a estabilidade internacional", afirmou.

Além disso, "o seu comportamento em Hong Kong, a tendência nacionalista e as demonstrações de poder confirmam essa perceção", considerou.

Porém, alertou, que o futuro da mais antiga das civilizações deve "ser tratado com a maior prudência" e concluiu que as relações de Portugal com a China "não começaram ontem nem terminam amanhã, e hoje tal como no passado têm de ser salvaguardadas da alternância dos ciclos".

A videoconferência organizada pelo Instituto do Oriente, contou ainda com as intervenções do embaixador Duarte de Jesus, que é também investigador do ISCSP da Universidade de Lisboa e do presidente do Conselho Científico do ISCSP da Universidade de Lisboa, Heitor Romana.

José Luís de Sales Marques, professor do Instituto de Estudos Europeus de Macau; e Raquel Vaz-Pinto, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa foram outros dos oradores.

A abertura e encerramento contou com a participação do presidente do Instituto do Oriente, Nuno Canas Mendes.

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