"Estamos a acompanhar a situação de perto e apelamos para que se evite a escalada das tensões. Condenamos veementemente todos os atos de ódio e violência. O direito de manifestar-se pacificamente, a liberdade de reunião e a liberdade de expressão devem ser preservados", publicou a delegação da UE na Sérvia na rede social X.
A manutenção da ordem "deve ser proporcionada e respeitar os direitos fundamentais", continuou a representação do bloco dos 27 em Belgrado.
"Esperamos uma investigação rápida, transparente e credível sobre as alegações de uso excessivo da força", afirmou ainda.
No sábado, quando o movimento antigovernamental convocado pela comunidade estudantil parecia estar a perder força, 140.000 pessoas manifestaram-se em Belgrado, uma das maiores manifestações desde o colapso, a 01 de novembro, do telhado de uma estação ferroviária na cidade de Novi Sad, no norte do país.
Esta tragédia, que causou 16 mortos, provocou indignação junto da sociedade sérvia, que acusa o Governo de negligência e corrupção em projetos de edifícios e estruturas estatais.
No final da manifestação, organizada para exigir eleições legislativas antecipadas, eclodiram confrontos e a polícia utilizou gás lacrimogéneo e granadas atordoantes contra os manifestantes, alguns dos quais arremessaram bombas de fumo contra as forças policiais.
Os estudantes apelaram entretanto a uma nova forma de ação, os "bloqueios efémeros": em grupos, os cidadãos instalam caixotes do lixo ou barreiras nos cruzamentos e vão-se embora quando a polícia chega. Outros atravessam sem parar a mesma passadeira durante várias dezenas de minutos para impedir a circulação dos carros.
Várias dezenas de pessoas foram detidas nestes bloqueios em todo o país - 70 delas apenas na noite de quarta para quinta-feira na capital.
O comunicado da UE recordou também que "qualquer medida de privação de liberdade ou sanção penal deve basear-se em suspeitas razoáveis de ter cometido uma infração e deve ser justificada e proporcionada".
No torneio de Wimbledon, o campeão de ténis sérvio Novak Djokovic comemorou hoje a vitória sobre o britânico Daniel Evans com um gesto de "bombeamento" com os braços, que se tornou simbólico do protesto no seu país e da pressão que os manifestantes pretendem exercer sobre o poder.
O movimento de protesto é o mais importante desde a chegada ao poder do Presidente Aleksander Vucic (direita nacionalista) há mais de 10 anos, mas este afirmou no domingo que não cederia às exigências dos manifestantes e ameaçou com novas detenções.
O Presidente está omnipresente nos meios de comunicação social - apareceu 220 vezes na televisão nos primeiros 181 dias do ano de 2025 -, onde critica regularmente os manifestantes "pagos pelo estrangeiro", que acusa de quererem fomentar um golpe de Estado.
Para a oposição da Sérvia, Vucic tornou-se cada vez mais autoritário, reprimindo direitos, liberdades e garantias e "abrindo o caminho" à corrupção e ao crime organizado.
A Sérvia é candidata à adesão à UE, apesar de o Governo de Vucic manter relações estreitas com a Rússia e a China.
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