Numa nota, em que adianta ter estado representado no funeral do "poeta esquecido", realizado sábado no Cemitério dos Olivais, em Lisboa, cidade onde residia desde 1945, o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, exaltou os "méritos literários" de Aguinaldo Fonseca.
"Muito contribuiu para a afirmação da cultura cabo-verdiana, emprestando às suas Letras enorme qualidade e fino recorte estético", refere-se no comunicado, em que José Maria Neves lembra Aguinaldo Fonseca com "um poeta dileto" do "saudoso" Amílcar Cabral, "pai" das independências da Guiné e Cabo Verde.
"À família deste poeta maior, bem como amigos e confrades, a solidariedade institucional do Governo, sentimento também dirigido à Academia Cabo-Verdiana de Letras, na certeza de que Aguinaldo Brito Fonseca, repousa na galeria dos imortais", lê-se.
Aguinaldo Fonseca, autor dos célebres poemas "Mãe Negra" e "Canção dos Rapazes da Ilha", faleceu na madrugada de sexta-feira em Lisboa.
Natural do Mindelo, na ilha cabo-verdiana de São Vicente, onde nasceu a 22 de setembro de 1922, Aguinaldo Fonseca instalou-se em Lisboa em 1945, tendo visto os seus poemas publicados em vários jornais portugueses de então.
A poesia de Aguinaldo Fonseca, que foi o primeiro autor a utilizar África na substância poética de Cabo Verde, está difundida na Internet e em várias antologias e obras coletivas editadas em diversos países, sendo "Mãe Negra" o seu poema de eleição.
Ficou curiosamente conhecido como "o poeta esquecido", mesmo depois de ter publicado a coleção "Linha do Horizonte", em 1951, e de, sete anos mais tarde, ter reunido uma seleção dos poemas no suplemento cultural Notícias de Cabo Verde, refere Michel Laban, um investigador argelino estudioso da literatura lusófona, que faleceu em Paris em dezembro de 2008.
A sua poesia retratava o ardor cívico e expunha firmemente as injustiças sociais, tal como é referido na Grande Enciclopédia Soviética, datada de 1979, estando traduzida em russo.