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EUA celebram fim da escravatura no meio de tensões sobre o racismo

Os Estados Unidos celebram hoje a abolição da escravatura no meio de tensões e da tomada de consciência das discriminações sofridas pela comunidade afro-americana, desde o racismo quotidiano, à violência policial, bem como a um passado segregacionista.

EUA celebram fim da escravatura no meio de tensões sobre o racismo
Notícias ao Minuto

18:48 - 19/06/20 por Lusa

Mundo George Floyd

Milhares de pessoas são aguardadas hoje em múltiplas manifestações previstas de Nova Iorque a Los Angeles para assinalar o 155.º aniversário do "Juneteenth" (contração de junho e de 19 em inglês), dia em que, em 1865, os escravos de Galveston (Texas) souberam que estavam livres da escravatura.

Hoje de manhã, várias ruas do centro da cidade de Washington encerraram à circulação automóvel, enquanto foi instalado um forte aparato policial próximo da Casa Branca na recentemente batizada "Black Lives Matter Square", para onde os manifestantes vão convergir ao longo do dia.

As comemorações deste ano revestem-se de um caráter particular, depois de vários dramas terem forçado o país a fazer um exame à consciência sobre o racismo que marcou o passado e que continua impregnado na sociedade até hoje.

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu asfixiado por um polícia branco quando foi interpelado, a 25 de maio, em Minneapolis. Acabou por sucumbir depois de ter ficado quase move minutos com o joelho do polícia no pescoço, apesar de ter indicado várias vezes ao agente que não conseguia respirar.

A difusão da cena, filmada quase na totalidade por transeuntes e que a divulgaram nas redes sociais, provocou uma onda de choque no país, que se tornou palco de grandes manifestações, por vezes com atos de violência e de pilhagens, para denunciar as injustiças raciais.

"A triste verdade é que não é caso único", explicou o irmão de George Floyd, Philonise, numa reunião sobre racismo no Conselho dos Direitos Humanos da ONU em Genebra, sustentando que a forma como foi "torturado e morto à frente de uma câmara" é "a maneira como as pessoas negras são tratadas pelo polícia na América".

Em Atlanta, a 12 de junho provocou a cólera: um polícia branco abateu com dois tiros Rayshard Brooks, um afro-americano que tentava, com uma pistola 'teaser' na mão, escapar a uma detenção por excesso de álcool. Tal como em Minneapolis, o agente da polícia foi despedido e acusado de homicídio.

Mesmo denunciando as mortes de Floyd e de Brooks, o Presidente norte-americano, Donald Trump, aproveitou a ocasião para se apresentar como um chefe de Estado pacificador, sem deixar de criticar alguns protestos.

O milionário republicano ainda pôs mais achas na fogueira quando programou para o dia do "Juneteenth" em Tulsa (Oklahoma), um grande comício de pré-campanha para as eleições presidenciais de novembro.

A cidade continua muito ligada a um dos piores confrontos raciais da história dos Estados Unidos, onde 300 afro-americanos foram massacrados por uma multidão branca, em 1921.

A escolha foi denunciada como uma provocação, obrigando Trump a adiar o comício e a cidade decretou o recolher obrigatório a partir da noite de quinta-feira até a manhã de sábado.

Hoje, Trump divulgou uma mensagem de simpatia ao dirigir-se à comunidade afro-americana dos Estados Unidos por ocasião do "Juneteenth", denunciando "a inimaginável injustiça da escravatura".

As manifestações das últimas semanas obrigaram os norte-americanos, por outro lado, a refletir sobre a História de um país que se dividiu sobre a questão da escravatura, um sistema que assegurou um forte desenvolvimento económico para poucos.

Nesse sentido, multiplicaram-se os apelos para derrubar os monumentos que glorificam os generais e responsáveis confederados durante a Guerra da Secessão (1861-1865), que assolou sobretudo o sul dos Estados Unidos, tendo mesmo alguns sido destruídos.

A conhecida competição de automóveis Nascar interditou as bandeiras confederadas nos seus circuitos, frequentemente agitadas pela multidão sobretudo no sul, onde o emblema é bastante popular, enquanto a chefe dos democratas no Congresso ordenou a retirada de quatro retratos de outros tantos presidentes da Câmara dos Representantes ligados aos confederados.

Várias grandes empresas, como a Nike ou mesmo a rede social Twitter, decidiram hoje conceder um dia, como feriado, para que os trabalhadores possam celebrar a efeméride.

Apesar dos avanços obtidos pelo movimento para os Direitos Civis nos anos 1950 e 1960, a minoria negra (13% da população) é, defende a agência noticiosa France-Press (AFP), a "grande esquecida da prosperidade".

Mais pobre, com maior número de doenças, está sub-representada a nível político e é vítima de detenções e massa.

A crise do novo coronavírus veio acentuar ainda mais o problema: a taxa de desemprego entre a comunidade negra explodiu com a paragem da economia e, ao ocupar empregos considerados essenciais, continua a ser a mais exposta à covid-19.

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